domingo, 12 de agosto de 2007

The Great Train Robbery



Internet Archive | The Great Train Robbery
IMDB | The Great Train Robbery (1903)
Wikipedia | The Great Train Robbery

Desde os seus primórdios, desde os tempos em que Lumière assustava e mesmerizava os parisienses com as suas filmagens de comboios a vapor (que de tal maneira assustavam os espectadores que estes literalmente saltavam das suas cadeiras) e da vida quotidiana da época, ou os tempos em que Meliès surpreendia e enfeitiçava com os seus rudimentares mas encantadores efeitos especiais que o cinema se mostrou um meio de comunicação capaz de fascinar multidões. Os empresários foram rápidos a explorar este novo filão, e o cinema, enquanto negócio, dependente de estúdios, depressa se desenvolveu.

Na América do início do século XX eram os estúdios de Thomas Edison que dominavam este incipiente meio de comunicação. Edison, inventor de renome (como referência, podemos apontar as só agora obsoletas lâmpadas de filamento de tungsténio) havia refinado os processos de Lumière e lançou-se em Nova Yorque no mundo do cinema com um estúdio próprio, dando início ao cinema enquanto linha de montagem e ao estúdio enquanto fábrica de sonhos.

Se acham que as nossas contemporâneas guerras de copyright neste admirável mundo novo digital são violentas, são pequenas comparadas com guerras semelhantes travadas no início do século XX nos mundos do cinema ou da aviação. Por exemplo, a primeira razão para que os aviões tenham flaps nas asas prende-se com direitos de autor... os irmãos Wright tinham resolvido o problema de como manobrar as aeronaves através do wing warping, deformação das asas (técnica que pesquisadores aeronauticos de ponta estão a revisitar). Conscientes do valor comercial, patentearam a ideia... forçando os outros inventores a criarem outros métodos para manobrarem aeronaves em pleno ar. Num processo em tudo semelhante às nossas guerras de copyright, a história do wing warping passou pelas barras dos tribunais... mas, estou a divagar.

Entre os muitos filmes do catálogo dos Estúdios Edison destaca-se este The Great Train Robbery. Foi, por um lado, inovador em termos técnicos. The Great Train Robbery foi um dos primeiros filmes a ser filmado nos locais, em vez de em estúdio - algo de verdadeiramente inovador se levarmos em conta as pesadas e frágeis câmaras da época. A câmara é estática (nem poderia ser de outro modo, à época), mas as cenas são eminentemente dinâmicas, vibrantes e cheias de movimento. Por outro lado, este foi o avô de um género de cinema muito explorado, sempre na moda, capaz de mover multidões e sempre de sucesso garantido: o cinema de acção, e, muito mais específicamente, o avô de todos os filmes sobre assaltos a comboios.

The Great Train Robbery resume-se em poucas linhas. Um grupo de malvados meliantes agride um empregado de bilheteira numa estação de comboios. Entram no comboio e prosseguem o assalto, disparando a torto e a direito, desprezando a vida dos passageiros. Consumado o assalto, os bandidos fogem na locomotiva, até chegarem ao local onde esconderam os seus cavalos. Entretanto, o empregado de bilheteira consegue avisar que aconteceu um assalto ao comboio. Forma-se um grupo de homens armados que parte em busca dos bandidos, encurralando-os na floresta. Segue-se um tiroteio, avôzinho dos tiroteios tão glosados nos Westerns, em que os bandidos são mortos. The End. Não se pode apontar a The Great Train Robbery grandes profundezas semióticas, mas na época a ideia de cinema enquanto arte com significado ainda não se tinha formado.



Um pormenor curioso em The Great Train Robbery está numa cena muito especial, que enregelava as audiências da época: um dos bandidos, de ar ameaçador, apontava a sua pistola para o público e disparava. Conta-se que à época eram muitos os que se assutavam com um truque para nós perfeitamente pueril.

Esta referência na história do cinema encontra-se disponível para download no Internet Archive, e se calhar também no You Tube e outros sites suspeitos do costume. É um filme a descobrir, fundamental para se conhecer as raízes do mundo de sonhos cinematográficos.