sábado, 21 de julho de 2007

Paciência

Não resisti a dar um pulinho à feira do livro ali ao pé da ermida de s. sebastião. Saí de lá mais pobre em dinheiro e mais rico em ideias. Mas não resisto à visão de bancadas recheadas de tomos literários e as caixas a abarrotar de lombadas convidativas. Apesar desta feira estar mais dedicada ao grande público do que aos que têm o bichinho do livro, com muita coisa nova e muito pouca coisa já esquecida e com destino certo nas prateleiras dos alfarrabistas (ah, e que locais encantandores são esses... um dia desisto de da vida de setor e dedico-me ao meu amor pelos livros já lidos e esquecidos), ainda lá se encontram coisas interessantes, como a obra poética de Virgílio traduzida por Agostinho da Silva a um preço irrisório (paguei dez vezes mais pela minha cópia), obras do Divino Marquês (sim, o de Sade), Wenceslau de Morais sobre o chá, textos de Bulhão Pato (exactamente, o que deu o nome à receita das ameijoas), Sun Tzu, Clausewitz, uma fantástica história da I Guerra, obra culinária de Da Vinci... bem, recomenda-se o pulinho, para se vir de lá carregado de coisinhas para ler à beira mar.

Entre os tesouros que encontrei, veio nas minhas mãos Os Livros da Minha Vida um ensaio apaixonante do meu velho amigo Henry Miller sobre os livros da vida dele. Nesse ensaio, abrio-o ao acaso, e deparei com estas frases:
"Para vermos aonde um professor pode chegar, que alturas pode atingir e que capacidades pode desenvolver, basta-nos pensar na história do despertar de Helen Keller para a aprendizagem. Era uma grande professora, essa Miss Sullivan. Uma aluna cega, surda e muda - que tarefa para enfrentar! Os milagres que realizou tiveram origem na paciência e no amor. Paciência, amor, compreensão. Mas, acima de tudo, paciência."

A minha fasquia profissional acabou de ficar mais elevada. Henry Miller, esse grande escritor do alto modernismo, ficou famoso pelas razões erradas. Quando de fala nele, só se pensa no lado do erotismo, quando aquilo que realmente torna Miller imortal é a sua prosa, as suas torrentes de palavras libertas. É um caso típico de se julgar um livro pela sua capa.

São palavras destas que me motivam, e não as elocubrações autocentradas dos teóricos da educação e da psicologia, que parecem existir apenas para se autojustificarem.