segunda-feira, 9 de abril de 2007
A Irmandade do Santo Sudário
Julia Navarro, A Irmandade do Santo Sudário, 2004, Ediouro Publicações
Ediouro | A Irmandade do Santo Sudário
Para terminar a colecção Enigmas da História este é um livro que não cai nada mal. A Irmandade do Santo Sudário, mais do que uma história sobre segredos obscuros que podem colocar em perigo as bases da civilização ocidental, é um romance de aventuras onde umas pitadas de policial se misturam com as lendas esotéricas numa história leve, mas de final infeliz.
O livro desenrola-se em vários tempos históricos, sob vários pontos de vista. Na época contemporânea, o chefe do departamento de investigações de crimes artístico fica obcecado pela resolução dos mistérios do santo sudário guardado na catedral de Turim - não dos mistérios esotéricos, mas sim do mistério por detrás de múltiplas tentativas falhadas de roubo, sempre levadas a cabo por misteriosos ladrões mudos. Todo o departamento mergulha a fundo nas investigações, descobrindo uma rede de cristão turcos cujo objectivo é recuperar o santo sudário, levando-o de volta a Edessa, moderna Urfa, de onde havia sido roubado pelos bizantinos.
Em Urfa assistimos aos dilemas do líder de uma comunidade cristã secreta, que sobreviveu durante milénios nas sombras. Essa comunidade afirma-se detentora do sudário, e a recuperação deste é a sua missão declarada, numa operação secreta de gerações que dura desde que o sudário surgiu na catedral de Turim. E, um pouco por todo o mundo, assistimos às conspirações secretas de um grupo poderoso e elusivo, cujo principal objectivo é a protecção dos segredos do sudário, bem como a protecção ao objecto físico guardado na catedral de Turim. Esse grupo é nada mais nada menos do que a ordem dos Cavaleiros Templários, continuada no mais absoluto secretismo após a sangrenta dissolução da ordem às mãos do rei Filipe o Belo de França.
Enquanto os polícias se aproximam da seita secreta que jurou recuperar o sudário, uma jornalista e uma investigadora policial aproximam-se demais dos elementos ocultos da modenra ordem dos cavaleiros do templo.
Paralelamente, assistimos ao desenrolar da história do santo sudário, desde que foi recolhido e levado para Edessa na antiguidade às várias peripécias porque passou - a sua ocultação nas muralhas de Edessa, a sua recuperação pelos bizantinos, a sua venda aos templários por um imperados bizantino especialmente desesperado por ouro, as suas peripécias à guarda dos Templários nos últimos dias dos reinos cristãos da Terra Santa, e o seu périplo pela Europa após a dissolução da ordem, até ser resguardado pelos cavaleiros templários sobreviventes na Escócia. Há inclusivamente um estranho episódio, em que um lençol de linho utilizado para proteger o sudário fica impregnado pela imagem de cristo no sudário, lençol esse que foi vendido pelos sucessores da família do templário que o guardou aos príncipes da Sabóia, que o colocaram na catedral de Turim.
Todas estas histórias culminam numa sangrenta colisão num cemitério de Turim, onde poucos acabam por sobreviver e embora todos os segredos sejam revelados, isso de pouco serve. O que transpira para fora dos túneis de Turim é considerado segredo e depressa abafado pelas autoridades.
A Irmandade do Santo Sudário é um livro que não espanta, mas também não desilude. Escrito de forma leve, quase resumida, brinca um pouco com a história europeia enquanto nos envolve em histórias que se outro género literário se tratassem poderíamos apelidar de histórias de capa e espada... mas é de assinalar que de todos os livros da colecção, este é um dos com mais groove.