terça-feira, 22 de agosto de 2006

Estrela do mar

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Os meus passeios pelas minhas queridas praias da Ericeira naquele momento indescritível de maré baixa revelam por vezes visões raras. Desta vez, forçado a trocar a praia habitual pela praia da Baleia, vulgo do Hotel ou do Sul, acabei recompensado pela visão desta Estrela do Mar - visão rara, aqui tão perto da areia. A troca de praia deveu-se às manigâncias da minha rapariga, que talvez um pouco farta dos mesmos recantos, me obrigou a estender a toalha num dos areais mais concorridos da vila. Mulheres... enfim, as reticências dizem tudo sobre o carácter feminino.

A vida agarra-se tenazmente a cada recanto, a cada buraco entre os rochedos. Mesmo nesta zona agreste, que o mar descobre periodicamente deixando as criaturas do ecossistema expostas às agruras do sol e do vento, a vida revela-se numa diversidade espantosa. Cada recanto, cada buraco revela florestas de algas, colónias de pequenos mexilhões, lapas e outras criaturas mais à vontade no fundo dos oceanos do que à sua superfície. Perscrutar os pequenos recantos intertidais é ter um vislumbre de paisagens microscópicas de um exotismo mesmerizante; é ver um mundo alienígena, aqui tão perto de nós. Mas não nos deixemos enganar. Estes ecossistemas são frágeis, dependentes da cupidez dos homens que não se coíbem de lá ir pescar polvos e pequenos peixes enquanto os destroem, mercê da poluição marinha, da pressão urbanística e de um desordenamento do território que encoraja a erosão acelarada.

Creio que a brancura nas estrelas do mar não é bom prenúncio. No seu meio são vivazes e coloridas. Quando estão brancas, é sinal de que estão mortas - isto se não me falha a biologia. Serve assim esta imagem para ilustrar a frieza do mundo natural, na esperança de que a visão de estrelas brancas não se multiplique. No fim de contas, o branco é uma das cores do luto.

Sou a estrela do mar
só a ele obedeço, só ele me conhece
só ele sabe quem sou no princípio e no fim
só a ele sou fiel e é ele quem me protege
quando alguém quer à força
ser dono de mim


Às ideias, sempre em turbilhão, chegam os acordes da canção Estrela do Mar, na voz de Jorge Palma

Imaginem, por favor, o leve turbilhão do piano, a sugerir tão magistralmente os turbilhões do mar.