Ainda me lembro perfeitamente desse momento há doze anos atrás. Estava eu naquele cubículo triangular que servia de sala de arrumos entretido a pintar uma série de paineis quando ele entra. Eu estava acabadinho de chegar ao ensino superior, caloiro numa escola menor no meio das lezírias, entusiasmado a pintar quadros ambulantes para o desfile de caloiros que se aproximava. Belos e ridículos tempos, demasiado bem regados a cerveja e vinho.
A minha primeira impressão foi má. Não gostei. Estava eu cheio de trabalho, quando entra aquele rapaz de sotaque alentejano que se senta, silenciosamente, numa cadeira e se deixa ficar a ver. Anos mais tarde confessou-me que ele estava apenas à espera que eu lhe pedisse ajuda. Como não gosto de trabalhar sob observação, detestei-o. E durante uns meses mal o suportei. Francamente, não ia mesmo nada com a cara dele.
Com tão auspicioso início, quem diria que doze anos depois, este ferrenho eborense e um metropolitano convicto como eu acabaríamos por ser bons amigos, e ainda por cima vizinhos nesta terra à beira do mar? O irritante campónio de sotaque alentejano revelou-se ser o melhor ser humano que jamais conheci - amigo de todos, sempre disposto a dar a mão ou o que for preciso em prol do bem comum. Quanto a mim, continuo a ser aquele convencido metropolitano a quem a idade não deu sabedoria; antes, mais rezingão ando.
Muitos parabéns, Emanuel, Nelinho para todos os que te conhecem. Bem-vindo aos vinte e onze. Quanto às outras histórias, ficam para os próximos anos.