Portugal Diário | Pais vão avaliar professores
Portal do Governo | Política Educativa e Organização do Ano Lectivo 2006-2007
A notícia do dia para nós, professores, é a divulgação do novo mecanismo de avaliação de professores. Ou, pelo menos, da proposta dos génios da cinco de outubro para o novo mecanismo de avaliação de professores. Os detalhes ainda são vagos, a notícia foi ouvida muito por alto, mas um pormenor ficou: a da avaliação de professores por parte dos encarregados de educação.
Como disse?
Foi tranquilamente explicado que este é apenas mais uma dos componentes da nova modalidade de avaliação. Mesmo assim, foi certamente o suficiente para deixar a classe docente em choque. Depois de ano e meio com as progressões congeladas, o ministério, que passou esse ano e meio doutamente debruçado sobre tão complexo assunto, sai-se com uma destas.
Se a medida for avante, prevê-se uma explosão nas taxas de sucesso escolar. Qual será o professor que, sabendo de antemão que os pais dos alunos têm uma palavra a dizer sobre a sua progressão na carreira em direcção a um melhor salário, se atreverá a chumbar um petiz? Também se prevê que a simpatia dos professores em relação aos pais melhore, de tal maneira que brevemente destronaremos os engraxadores como símbolos da sabujice nacional.
Brinco, brinco, mas a coisa é séria. Ter os pais dos alunos a avaliar-nos é uma daquelas medidas que só demonstra o estado de irrealidade que prevalece nos gabinetes arejados a ar condicionado da cinco de outubro. Perfeitamente capazes de papaguear as mais recentes teorias vindas das torres de marfim, os funcionários que nos tutelam revelam um total desconhecimento do terreno onde desenvolvemos a nossa luta do dia a dia. Só isso explica uma ideia destas. Ou então...
Não que os pais não possam ter nada a dizer sobre o nosso desempenho. Já o fazem. Mas de forma vinculativa? Terão os professores de ser avaliados pelos pais daqueles alunos preguiçosos e mal-comportados que em casa são tidos como génios incompreendidos? Teremos de ser avaliados pelos pais dos alunos dos bairros sociais, esses modelos de competência educativa? Teremos de nos sujeitar às invejas e às pressões só para podermos progredir na carreira?
Ou então... isto cheira a desinformação. Para que o debate não levante questões incómodas ao ministério, foi lançada esta pérola, para gerar discussões acaloradas. E enquanto discutimos uma monumental burrice deste género, talvez o ministério consiga levar avante medidas ainda mais restritivas. Nestes próximos dias, muita atenção será essencial.
(Bem sei que estou a reagir a quente, mas e então, porque não? Os blogs servem é para isto!)