terça-feira, 23 de maio de 2006

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Hoje, os olhares da minha máquina fotográfica não trazem o mar, mas sim a terra. Hoje trago Torres Vedras gravada nos bits do cartão de memória. Torres é uma agradável cidade aqui da região, à qual me desloco pelo menos uma vez por ano para o exame anual ao meu quase clássico automóvel - que, já que perguntam, passou no exame e está autorizado a circular por mais um aninho. Torres é uma cidade tranquila, com um centro bem cuidado e onde misturados com as novas classes médias urbanas ainda podemos encontrar típicos saloios da zona oeste. Qualquer zona do país têm os seus habitantes típicos, geralmente velhotes vestidos com roupas escuras, costas vergadas por anos de trabalho àrduo e um boné a cobrir os seus cabelos brancos. A distinção de que zona do país são depende do olhar que se esconde debaixo da boina. Com um olhar inocente e quase asinino, é certo que seja do norte, ou das beiras. Com um olhar desafiador, estilo pego toiros e também te pego a ti, é certo que seja ribatejano. Com um olhar tímido e solitário, que se alegra com as coisas pequenas da vida, é homem do oeste saloio (era esse o olhar que recordo nos olhos do meu saudoso avô, camponês rijo dali dos lados da Merceana).

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Se a Ericeira está rodeada por um mar de, bem, de... mar, Torres Vedras está rodeada por um mar de verde. A oeste, para quem vem do mar, Torres revela-se no fundo de um vale ladeado por suaves colinas, verdejantes com videiras de parra viçosa. Para quem vier de mais a norte, Torres revela-se por entre os pinhais, ou por entre os plátanos das termas dos cucos, local de rara beleza mesmo muito perto daqui. Estas termas são acessíveis pela estrada que vai de Torres ao Bombarral, uma estrada que é uma delícia de percorrer. Após se atravessar um velho aqueduto, circulamos por uma estrada que ladeia suaves encostas verdejantes. No meio da planície, onde o verde mal deixa adivinhar o rio, abre-se uma alameda no meio dos plátanos que nos dá as termas como destino certo.

Cidade tranquila, ainda não muito afectada pela selvajaria da construção civil no seu centro (não falo dos arredores cobertos de bunkers), Torres Vedras sofre pelos acessos, que são dos piores que conheço. A auto-estrada do oeste é uma auto-estrada, é certo, mas a linha de comboios pouco parece passar de uma relíquia. As estradas nacionais são aceitáveis para quem vem da zona da Malveira, mas para quem vem do lado do mar... digamos que é uma estrada em que eu prefiro conduzir no meio da estrada. Parece-me o local menos perigoso. As crateras que ladeiam as bermas rivalam em amplitude com as crateras lunares. O mau estado das estradas não impede os nativos locais de ultrapassarem lesmas medrosas como eu em cima de curvas sem visibilidade com piso esburacado.

Torres também é o único sítio aqui nas redondezas onde se pode encontrar a revista Bang! (trinta quilómetros são umas redondezas apreciáveis). Se viverem aqui por perto, querem ler a revista mas não a conseguem encontrar, não desesperem: a papelaria União, na casa central no centro de Torres, ainda tem alguns exemplares. Um a menos, porque o meu já está prontinho a ler sobre a mesa da sala.