quinta-feira, 25 de maio de 2006

Bang!

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Os mais habituais dos meus leitores já devem ter reparado que nunca digo mal de um livro ou filme sobre o qual deixe um apontamento aqui no blog. A razão para isso é simples: eu não sou um crítico, não me chegam às mãos resmas de livros que leio e sobre os quais depois me pronuncio. Geralmente o que filtra as minhas leituras é o momento da aquisição, aquele momento prazenteiro em que, no meio de uma livraria, rodeados de pilhas de livros, abrimos aquele livro e nos deixamos levar ao acaso pelas suas palavras. Há livros que leio por recomendação, e há livros que, simplesmente, descubro. Desta maneira, profundamente dependente do acaso, raramente encontro obras que me desagradem. Toda esta introdução tem apenas um objectivo - o de mostrar que não sou nenhum crítico, apenas um leitor algo fanático que não se inibe de partilhar os seus gostos literários.

À partida, a revista Bang! não me iria desagradar. Longe vão os tempos em que a minha conta bancária me permitia veleidades como ler a Asimov ou a Analog regularmente (nem falo na Fantasy and Science Fiction! Suspiro!). A verdade é que andava sedento de alguma publicação que reflectisse sobre literaturas alternativas e publicasse novos textos. Na internet encontra-se imenso sobre ficção científica e fantasia, mas a internet não nos dá aquele gostinho de nos sentarmos no nosso recanto de leitura favorito e simplesmente folhearmos páginas. De maneira que foi com grande expectativa que finalmente li a Bang!, uma expectativa ainda mais exacerbada pelas dificuldades em encontrar a revista aqui nas redondezas.

A Bang! deveria trazer um aviso: não é aconselhada a sua leitura enquanto o leitor tiver outros afazeres. À custa da Bang!, deixei queimar o jantar de ontem, e mal saboreei a comida. Enquanto não a li de fio a pavio, não descansei.

Este primeiro número, o número zero, da revista começou em cheio com a publicação de contos de Lavie Tidhar (do qual se podem ler mais no Infinity Plus), Lawrence M. Schoen e João Ventura, e pré-publicações de contos de Robert E. Howard, David Soares e Ágata Ramos. Conta ainda com artigos de fundo sobre Lovecraft, recentemente traduzido por um núcleo de tradutores, críticas a livros de Zoran Zivcovic e Ana Cristina Luz, um ensaio sobre a estranha relação entre Saramago e a FC de acordo com Jorge Candeias, um artigo de opinião de João Barreiros que me transmitiu a informação que a promissora colecção de ficção científica da Editorial Presença ficou-se no limbo, e uma entrevista a David Soares. Apenas me recusei a ler a pré-publicação do conto de Robert E. Howard; tenho o livro sobre a mesa de cabeceira e recuso-me a desfazer a surpresa. Fiquei bem surpreendido pela qualidade das propostas de ficção publicadas neste número zero da Bang!, e os artigos de discussão mesmerizaram-me, simplesmente.

Perante a expectativa que eu de antemão tinha sobre a Bang!, só tinha duas hipóteses: ou me encantava, ou me desiludia. Perante esta primeira leitura da Bang!, só me resta um caminho: uma vez que é tão difícil de a encontrar (a menos que se vá aos locais certos, que desconheço), só me resta tornar-me assinante. É que este número zero, em vez de me saciar a sede, ainda me deixou mais sedento pelo próximo número.

(Vergonhosamente acabei de descobrir que aqui na Ericeira também se pode comprar a Bang!. Andava eu a ruminar...)