domingo, 23 de abril de 2006

O Regresso dos Mortos Vivos

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IMDB | Dawn of the Dead (2004)
Grande Plano | Dawn of the Dead
Dawn of the Dead

Quem me conhece conhece a minha pouco saudável obsessão por filmes de zombies. São filmes sem grande lógica, com um certo teor apocalíptico, que se resumem a cenas que demonstram formas criativas de aniquilar cadáveres ambulantes em decomposição acelarada. Primitivo, muito primitivo, mas também muito divertido, especialmente para quem não se importe com os vermelhos, os verdes e os castanhos do gore.

O zombie enquanto género cinematográfico teve uma génese curiosa. Os primeiros filmes com zombies eram verdadeiramente suaves pelos padrões actuais - os zombies da altura eram perfeitamente inspirados no zombie do voodoo haitiano - não necessáriamente um morto-vivo, mas um ser humano desprovido de espírito e vontade própria. Só no final dos anos 60 é que o lendário George Romero reinventa o género, com o mítico filme Night of the Living Dead e as suas sequelas, reinventando também a noção de zombie - agora, um cadáver reanimado por influências desconhecidas, cujo único objectivo é comer carne viva. Foi Romero quem deu ao género Zombie o cunho apocalíptico de um mundo devastado por uma avalanche imparável de zombies.


Realizado em 2004 por Zack Snyder, um realizador conhecido por se dedicar à realização de anuncios, O Regresso dos Mortos Vivos é um remake do clássico filme de Romero, Dawn of the Dead. Snyder, realizador tarefeiro, fez um trabalho competente, mantendo-se fiel ao espírito do filme original, com actualizações pensadas para tornar o filme mais contemporâneo. O Regresso dos Mortos Vivos mostra-nos a luta pela sobrevivência desenvolvida por um bando pouco coeso de sobreviventes de uma epidemia de zombies que aniquila a sociedade. Os sobreviventes refugiam-se num centro comercial, tentando refazer as suas vidas no meio da catástrofe enquanto estoiram os miolos aos zombies que cercam o centro comercial (como sabem, a única forma que parar um zombie é acertar em cheio da cabeça, e esparramar os seus miolos pelo chão ou qualquer outra superfície). O filme mantém alguma da corrosiva crítica social presente nos filmes de Romero - o piscar de olhos à nossa sociedade de consumo, em que parecemos zombies que infestam os centros comerciais, mas foca-se mais no lado catastrofista. Se nos originais de Romero, a ameaça à ordem social era sugerida, nesta versão de 2004 essa ameaça é bem real, com as ruas da cidade devassadas por turbas de mortos-vivos em vários estados de decomposição. Quando se tem bons orçamentos, há muita coisa que se pode fazer...

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O aspecto mais positivo deste remake é o excelente uso de efeitos especiais. Um bom filme de zombies não é um bom filme de zombies sem cadáveres horripilantes, sangue e vísceras a jorrar, e O Regresso dos Mortos Vivos satisfaz a nossa sede por gore, embora não vá tão longe quanto poderia - há que pensar que o filme foi realizado para um grande público potencial, que normalmente não iria ver um filme de zombies, e por isso não convinha assustar os incautos espectadores com efeitos gore a cem por cento, daqueles efeitos especiais que é preciso ter um estômago muito forte para aguentar. Mesmo assim, somos mimados com algumas belíssimas aniquilações de zombies, e até a uma cena algo inovadora no género, com um horripilante bébé zombie. Essa é uma cena que perturba.

O Regresso dos Mortos Vivos é entretenimento puro, um filme de acção com zombies à mistura. Não é um clássico, nem se tornará um filme de culto. É simplesmente um filme divertido que revisita um clássico do cinema de terror.