quinta-feira, 6 de abril de 2006

Leituras

e*I*25- (Vol. 5 No. 2) Um curioso fanzine online, cuja edição mais recente anda às voltas com o nazismo. Mais de cinquenta anos passados sobre os horrores que devastaram a Europa, o nazismo ainda é um tema actual. Via Groovy Age of Horror.

Guardian | Marx's reserve army of labour is about to go global Décadas após a queda dos regimes de inspiração marxista, e em pleno aparente triunfo do capitalismo puro e selvagem, as ideias de Karl Marx, o economista do século XIX cujas ideias sobre as relações entre trabalho e capital modelaram os ideários socialistas e comunistas, parecem ser aquelas que são menos prováveis de prever o futuro - no caso, o nosso presente. Infelizmente, com o capitalismo globalizado, as ideias esboçadas nos finais do século XIX estão, ainda muito actuais.

Nas últimas décadas, nas sociedades ocidentais, tem existido um equilíbrio entre trabalho e capital. As baixas taxas de desemprego asseguram salários relativamente justos - nenhum patrão consegue pagar salários baixíssimos com a desculpa de que se o empregado não quiser, outros haverá que não se importarão. Isto acontece não por boa vontade dos patrões, mas sim porque estes não podem depender de uma reserva de potênciais trabalhadores desempregados e pobres, desesperados por um qualquer salário, por magro que seja. A globalização veio mudar isto. O patrão pode não ter uma reseva laboral que lhe permita baixar os custos já ali ao lado, mas tem essa reserva disponível na China ou na Índia. O resto é a litania habitual das falências, uma litania que os trabalhadores portugueses bem conhecem - alegando incapacidade de competir no mercado global, as empresas fecham nos países com melhores salários e maiores benefícios sociais, e os empresários reabrem as mesmíssimas empresas na China, na Índia ou em países similares, que, desesperados como estão para saírem de extrema pobreza, simplesmente tornam a questão dos direitos laborais uma questão não-existente.

Outra previsão de Marx que me parece estar a revelar-se correcta é a de que o capitalismo haveria de se auto-destruir. Neste auge globalizante de lucros obscenos, parece difícil que esta predição se cumpra, mas... uma das mais brilhantes ideias de Ford (esse mesmo, dos automóveis) não foi o seu modelo T ou a perfeita adopção da linha de montagem. Foi pagar salários altos aos seus operários. A ideia não era assim tão transparente - Ford só contratava operários que caíssem dentro da sua definição de homem decente, e os seus operários eram sujeitos a inspecções periódicas às suas casa em busca de materiais indecentes, mas o princípio era brilhante - pagando mais aos seus operários, Ford permitia-lhes ter mais dinheiro disponível, o que permitiria, entre outras coisas, aos seus operários comprar um automóvel. Adivinhem então qual o empresário que fabricava automóveis baratos? Esta ideia é a que está subjacente à nossa economia de consumo - os salários são investidos em bens de consumo, que geram novos lucros aos agentes económicos. É um ciclo. Mas a nova paixão pelo lucro a todo o custo, com a obrigatória ideia de desinvestimento nos recursos humanos como forma de produzir mais barato, terá a longo prazo a nefasta consequência de gerar salários cada vez mais baixos, maior desemprego... e aí, quem é que resta para adquirir os bens que geram lucro na sociedade de consumo?