Quem me conhece sabe bem quão pouco ligo a este tipo de superstições. É paradoxal, dado o meu fascínio pelo horror e pelo sobrenatural, mas a verdade é que não acredito nada nessas tretas espiritualistas e supersticiosas. No entanto, não consigo deixar de pensar que ando no meio de uma onde de azar. Porquê?
Primeiro, o meu computador avaria. Estive por um triz de perder anos de trabalho, evaporados para o vácuo electrónico. Em seguida, a minha rapariga bate com o carro. O carro novo, claro. O nosso carro não ficou muito danificado, mas a chapa rija do Peugeuot conseguiu pulverizar a mala do Audi com que chocou, vergando inclusivamente a barra de reforço traseira. Pelo menos, de acordo com a oficina de vão de escada que irá reparar o Audi. A coelha recordista que eu já conhecia há pelo menos cinco anos e que já ia no décimo ano de vida (os coelhos vivem em média seis anos) foi para o grande campo relvado lá em cima na quarta-feira de cinzas. Bem sei que um homem não chora, mas confesso que verti algumas lágrimas quando enterrei o animal. Dois dias depois, descobrimos que os cães de raças cujo corpo é mais comprido do que alto têm uma predisposição genética para que lhe apareçam hérnias discais. A cadela ficou semi-paralizada, e foi necessária uma complexa e cara operação de neurocirurgia veterinária para que ela recuperasse. O meu livro de cheques estava nas últimas. Precisava de mais cheques para pagar a operação do animal. Percorri todas as agências do meu banco no concelho de Mafra em busca de cheques comprados no momento. Só os consegui na última agência possível, que eu nem sabia que existia. Também fiquei a saber que como agora existem máquinas que imprimem cheques no momento, as agências deixaram de ter cheques para vender. E também fiquei a saber que essas máquinas avariam fácilmente. Quando já estava esperançado que poderia colocar a minha vida financeira em ordem, eis que surge a conta bimestral da EDP. Raciocinei, lógicamente, que se pagar de dois em dois meses em vez de todos os meses pagaria em média do dobro do habitual. Como os génios financeiros da EDP funcionam com uma lógica nítidamente superior, paguei o quadrúplo.
Para rematar, estou com uma gripe tão tramada que há três dias que mal me mexo. É impressão minha, ou há aqui algum elemento de mau karma? Já deixei de pensar "pronto, foi um azar". Agora penso, "e agora, qual é o próximo azar"?