Recorrer às urgências do centro de saúde de Mafra, eufemísticamente chamado de "hospital", é um exercício de paciência desesperante. As urgências traduzem-se numa hora ou mais de espera por uma consulta. A consulta em si é rápida - os dois médicos de serviço, assoberbados de trabalho, fazem sair os doentes mais rápidamente do que o tempo que demoram a entrar. A única forma de se ser examinado com urgência é entrando de ambulância, e mesmo assim só em casos quase terminais.
Por irritante e desesperante que seja o atendimento de urgência do centro de saúde de mafra, a verdade é que não posso levar a mal o trabalho quer do pessoal administrativo quer do pessoal médico e de enfermagem. Estes tentam apenas canalizar uma enchente cada vez maior de utentes, agravada pelo quase não funcionamento das extensões de saúde das vilas do concelho de mafra. A ericeira, por exemplo, não tem serviço permanente, o que significa que qualquer urgência é canalizada para mafra. Quem fala da Ericeira fala de todas as restantes freguesias do concelho de mafra, muitas das quais têm um centro de saúde que só funciona alguns dias por semana.
Fazia todo o sentido que a câmara de Mafra, preocupada como está em pavimentar estradas e abrir novas sedes de freguesia, também olhasse para um centro de saúde que está nitidamente a rebentar pelas costuras. Mafra é um concelho em franca expansão populacional, que começa a precisar de estruturas adequadas ao ambiente urbano que efectivamente tem. O desenvolvimento não se mede só em estradas e em complexos gimnodesportivos. Saber que em caso de urgência médica se poderá ser bem atendido a poucos quilómetros de casa é possívelmente um pouco mais importante do que ter excelentes estradas que nestes casos servem apenas para chegar mais rápidamente a um hospital lisboeta.
Este problema das urgências em slow motion é um sintoma comum a todo o nosso sistema de saúde, que parece ter sido desenhado tendo em mente o agravar da saúde dos seus utentes.