Rabisquei no quadro qualquer coisa parecida com uma àrvore, um sol e uma flor.
- Isto é um desenho que é concreto - disse, virando-me para os vinte e cinco pares de olhos que me seguiam com atenção - parece-se com alquma coisa... representa objectos, pessoas, animais, paisagens... o que quisermos.
Por debaixo da casinha, escrevi CONCRET0 e sublinhei. Entre parentesis, ainda escrevi representa o real.
Em seguida, desenhei com o giz branco uma aglomeração de figuras geométricas. Quadrados e triângulos que se sobrepunham, linhas que se entrecruzavam, circunferências juntinhas como se de pontuação se tratasse.
- E isto, meus meninos, este desenho, não representa nada que se pareça com aquilo que conhecemos. É uma brincadeira com as formas, com as figuras geométricas, e serve para exprimir a imaginação pura. A este tipo de desenhos e de pinturas chamamos de obras abstractas.
Por debaixo dos triângulos, escrevi ABSTRACTO e sublinhei. Entre parentesis, ainda escrevi não representa o real.
Tinha dito aos meus meninos que tinham de fazer uma composição gráfica com figuras geométricas, o que é uma forma muito complicada de fazer um desenho. Estava a explicar-lhes a diferença entre concreto e abstracto porque, como lhes disse, eram perfeitamente livres de desenhar o que quisessem. A única regra deste desenho era utilizarem réguas para desenharem qualquer forma. Podiam desenhar paisagens, animais, naves espaciais, monstros, enfim, tudo aquilo que a imaginação lhes sugerisse.
Voltei a olhar para os alunos. Sentindo os olhos fixos em mim, lá fiz a pergunta que todos os professores costumam fazer.
- E então, quem é que sabe qual é a diferença entre um desenho concreto e um desenho abstracto?
Surgiu um mar de dedinhos no ar. Muitos responderam, e bem. Fiquei satisfeito. A maioria dos alunos tinha aprendido a lição. Para terminar, virei-me para um daqueles alunos que ainda não tinha o dedo no ar.
- E então, amigo, qual é para ti a diferença entre um desenho concreto e abstracto?
Silêncio. Repeti a pergunta, apontando para os exemplos que havia esboçado no quadro negro. Novamente silêncio.
Fixei o olhar de pânico da cara do jovem rapaz, enquanto a turma se agitava em gemidos e murmúrios.