sábado, 17 de dezembro de 2005
Vénus de Urbino
Já viram a Olympia de Manet e a Grand Odalisque de Ingres. Agora, peço-vos que olhem (certamente que não será grande o esforço) para esta Vénus, de Ticiano. Pintada em 1538, esta obra prima de Ticiano celebra a beleza do corpo feminino, sob um tema classicista: em vez de lhe chamar retrado da amante, ou outro título semelhante, chama-lhe Vénus, a deusa da beleza e do amor, o que tranquiliza as mentes mais puritanas e bem comportadas: não, não estão a ver uma mulher nua, isso seria uma indecência. Estão a ver a deusa greco-romana da beleza e do amor, e todos sabemos como os antigos, apesar das suas virtudes, eram uns debochados. Ingres ainda não tem coragem para modificar este ideário: o seu nu é uma odalisca, baseada numa concepção onírica do oriente. Já Manet mostra-nos o nu tal e qual como ele é. Não o disfarça sob uma capa de classicismo ou orientalismo. Olympia é o nome da modelo por ele pintada. O que vemos é o que é. Essa foi uma das razões para o escândalo que Olympia provocou quando foi exposto pela primeira vez.
No fundo, o tema é sempre o mesmo: a preservação da beleza da mulher, aqui retratada ao longo dos séculos através do retrato de mulheres que já há muito que se tornaram pó. Para rematar esta ideia, que começou um pouco por brincadeira mas já está a levar com contornos mais sérios, só me falta falar das vénus pré-históricas (nos tempos em que gordura era formosura) e do nu contemporâneo, aquele que vai além do corpo.