terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Os Condenados de Shawshank

Estações Diferentes, de Stephen King, Temas & Debates, 2001
I
Os Condenados de Shawshank

O primeiro conto do livro Estações Diferentes de Stephen King, Os Condenados de Shawshank, é uma história minuciosa sobre o valor da paciência e o significado da coragem em tempos adversos. A história é contada através do ponto de vista de Red, um prisioneiro na prisão de Shawshank, um daqueles homens que tem a capacidade de conhecer tudo e todos; dá-se bem com todos e consegue arranjar aquilo que for preciso. Red, um condenado à prisão perpétua já tão habituado à vida na prisão que teme o dia em que a sua pena será comutada e sairá em liberdade condicional, conta-nos a história de Andy Dufresne, outro condenado a passar a vida atrás das grades húmidas e bafientas da prisão. Dufresne havia sido condenado pelo assassínio da mulher e do amante dela. Sempre se confessara inocente, injustamente condenado, mas tudo estava contra ele. Ninguém acreditava nele - as prisões estão cheias de criminosos endurecidos que são autenticos inocentes, vítimas da sociedade ou das suas vítimas. Dufresne não se deixa abater pela vida na prisão e pela sua condenação injusta. É o único prisioneiro que não caminha de ombros descaídos e olhar perdido.

Ex-bancário, Dufresne consegue alguma proeminência e uma posição segura na prisão, preenchendo as declarações de IRS aos guardas e ajudando os corruptos directores da prisão a lavarem os lucros dos seus esquemas de corrupção mesquinha. Torna-se tão essencial aos seus sequazes que estes lhe negam a hipótese de provar a sua inocência. O seu trabalho a limpar as mãos dos seus guardas criminosos é recompensado com uma biblioteca que Dufresne utiliza para ajudar os prisoneiros a melhorarem as suas qualificações académicas. O único hábito pessoal que Dufresne tem que é seu, que não é abnegado, é a recolha de rochas e pedras dos pátios da prisão. Dufresne tem como hobby a geologia, e o seu tempo livre na prisão é passado a esculpir pedrinhas com um martelo de geólogo.

Passam-se trinta anos desta vida, até que uma manhã a contagem de prisioneiros revela que falta um. Andy Dufresne conseguira fugir. É aí que nos apercebemos da infinita paciência, coragem e tenacidade de Dufresnte. Durante trinta anos conseguira abrir um túnel nas paredes da prisão com o seu pequeno martelo de geólogo. Pacientemente, furou, escavou, até conseguir encontrar uma passagem para os esgotos e fugir. Mas a tenacidade e a coragem de Dufresne não se limitam a uma banal fuga da prisão. Antes de ser detido pelo crime que não cometera, Dufresne e um amigo tinham conseguido salvar parte dos bens financeiros de Dufresne sob uma identidade falsa. Durante os trinta anos que Dufresne passou atrás das grades de Shawshank, a chave do cofre que continha todos os documentos da nova identidade de Dufresne esteve encerrada numa pedra falsa colocada dentro do muro de um campo numa localidade a cinquenta quilómetros da prisão.

Em trinta anos muita coisa pode acontecer. As poucas acções que Dufresne mantera sob um nome falso valorizaram-se de tal maneira que o homem que tratava das fugas financeiras dos mesquinhos directores da prisão era mais rico do que eles. E em trinta anos muita coisa pode acontecer a um campo… o muro pode ser derrubado, a chave do cofre pode residir debaixo de toneladas do cimento da urbanização em que se transformou o campo…

Os Condenados de Shawshank ilustram de forma brutal a tenacidade e a coragem de um homem na mais adversa das situações que a vida lhe pode atirar. Como diz o velho provérbio, água mole em pedra dura tando bate até que fura