Sabem qual é a piada de dias como o de hoje, dias soturnos de chuva, com o céu carregado de nuvens cinzentas e um ar húmido que nos encharca os ossos?
É dar aulas. Sempre que chove, os miúdos parece que ficam carregados de energia. Daquela energia explosiva, que os deixa desatentos, irrequietos, faladores, desconcentrados, e a pensar em tudo menos naquilo que se faz na sala de aula.
Nestes dias, a alma de um professor encontra-se em divisão profunda. Por um lado, arrepende-se até à medula por ter escolhido tão ingrata profissão. Por outro lado, aquele instinto quase maternal que qualquer professor desenvolve quando está em contacto permanente com bandos de putos imberbes acaba sempre por tomar conta de nós e leva-nos a sorrir, complacentes, perante as traquinices que as crianças se lembram de fazer para nos tentar torturar.
Perdemos a paciência, dizemos cobras e lagartos dos alunos e da profissão, mas... no dia seguinte cá estamos, cheios de vontade para mais do mesmo.