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World Mysteries | Von Daniken
Os grandes escritores são-no não só pela elegância dos seus raciocínios e pela profundidade dos seus pensamentos. Os grandes escritores questionam a realidade, contemplam-na de vários pontos de vista e são capazes de a recriar, nos estreitos confins das páginas de um livro. Se a realidade recriada não serve os objectivos propostos pela história, podem ir mais longe, e criar novos mundos, inventar novas realidades. Esta capacidade não é restrita a um ou outro género literário. Ao ler a Odisseia, atribuída a Homero, ao ler uma boa obra de ficção científica, ou ao ler uma obra literária do calibre de Nostromo de Conrad ou de Ulisses de Joyce, algo mais do que as palavras excita a nossa imaginação. São os vislumbres de outros mundos, outras realidades, outras percepções.
Como reverso da medalha, temos aqueles que acreditam piamente nas realidades que inventam. Erich Von Daniken é um exemplo típico destas personalidades culturais consideradas excêntricas, se não mesmo loucas. Claro que a realidade, vista pelos olhos de Von Daniken, é particularmente inverosímil. Mas temos de conceder que há algo de feérico e maravilhoso naqueles que apaixonadamente perseguem as suas obsessões.
Von Daniken defende, e prova, que desde os longos milénios da pré-história que a humanidade se encontra em contacto com extra-terrestres. As bases de tão inusitada teoria vêm de uma amálgama de ilações retiradas de dados tão díspares como objectos arqueológicos misteriosos (como o mecanismo de antikhytera), representações gráficas em estelas pré-colombianas e pinturas rupestres europeias, construções assombrosas como as pirâmides do egipto, as suas congéneres maias e as linhas de nazca, desenhadas não se sabe bem porque razão no deserto chileno. Também com grande importância para as maquinações mentais de Von Daniken são passagens escolhidas a dedo da bíblia ou dos rig-vedas hindus que falam de carruagens nos céus, explosões misteriosas nos céus e seres superiores que se mesclaram com os homens.
Von Daniken vê em Nazca um espaçoporto rupestre; astronautas em figuras rupestres pintadas em cavernas europeias e africanas; astronautas em representações de deuses e guerreiros pré-colombianos; extra terrestres em representações escultóricas de um pouco de todo o mundo; construções construídas com o auxilio de extraterrestres, como as pirâmides ou stonehenge, construídas talvez para servirem de base para aterragem de espaçonaves alienígenas; memórias raciais ocultas nos relatos mitológicos de varias tradições sobre seres vindos do céu, guerras entre seres celestiais e miscigenação de seres superiores com os homens, que recordavam de forma difusa acontecimentos reais acontecidos em disputas ocorridas em tempos imemoriais entre alienígenas e consequências benéficas ou maléficas de uma grande atracção entre alienígenas e mulheres humanas (lembrem-se que os grandes herois gregos, como hércules, são muitas vezes o resultado de uniões entre deuses e simples mortais); com tantas e tão óbvias provas de interferência alienígena na história da humanidade, talvez seja possível que tenhamos sido criados por alienígenas.
Faz todo o sentido, não faz?
Recomendo vivamente que não acreditem em nada do que foi escrito anteriormente. Não passam de conclusões erradas tiradas de observações imperfeitas que muitas vezes contrariam o já conhecido sobre a história humana e os seus costumes, o bom senso e, muitas vezes, o óbvio. Há quem acredite, é certo... há sempre almas inocentes dispostas a caírem nestas teorias mitológicas obscuras (como se comprova pela adesão da humanidade ao absurdo conceito de religião).
Levar Von Daniken a sério é uma perfeita idiotice, mas isso não significa que o ignoremos. Não vou entrar aqui pelo campo armadilhado que nos diz que a ciência está sempre a evoluir, e a descobrir coisas novas, a lançar novas luzes que revolucionam teorias que julgávamos já perfeitamente estabelecidas. Esse é o argumento típico daqueles que levam a sério Von Daniken e os da sua laia. Do meu ponto de vista, a importância das ideias de Von Daniken está na sua localização naquela zona cinzenta entre ficção e realidade. Sabemos que são irreiais, mas somos irremediávelmente atraídos pela sua aura de mistério, de conhecimento oculto que revelará vislumbres de outras realidades, outros mundos.
