domingo, 23 de outubro de 2005

Um blog em movimento



Um blog em movimento

Acabada como está a semana anterior, cheia de trabalho pós-laboral e reuniões, esta semana já não tenho desculpa para uns posts mais interessantes aqui no blog. E ainda bem que será assim, pois senão nada haverá que distinga este intergaláctico de todos os outros quinhentos mil milhões de blogs que não passam de entediantes diários digitais das vidas desinteressantes dos seus criadores. Não é que este blog não tenha uns posts mais nessa onda. Esses, são para ler e esquecer. O que me está mais a fascinar são os registos que cá deixo dos livros e dos filmes (e, por vezes, das músicas) que me definem, que me afectam e me apaixonam.

Estamos em outubro, ainda. Novembro aproxima-se a passos largos. Com este tempo de outono, às vezes chuvoso e tenebroso, às vezes solarengo e fresquinho, com o dia de todos os santos a aproximar-se (com a sua variante mexicana de dia de los muertos, a altura anda mesmo propícia a livros e filmes de terror. Assim, nos próximos dias, prometo que vos falarei de dois clássicos: o conto clássico de Arthur Machen, The Great God Pan, um conto pós vitoriano que lida de forma velada com a sexualidade e o lado selvagem da alma humana, através da reencarnação de um antigo deus romano. E, com o grande Vincent Price, um filme que é uma verdadeira parada de estrelas do horror: O Fosso e o Pêndulo, no original The Pit and The Pendulum, liberalmente adaptado do conto homónimo de Edgar Allan Poe. Para além do já mencionado Price, neste filme também contamos com a scream queen dos anos 60, Barbara Steele, um argumento de Richard Matheson (autor de um dos mais interessantes livros de vampiros, I Am Legend e realização do rei dos filmes de série B, Roger Corman. Um verdadeiro clássico.

Este clássico do cinema foi o resultado da loucura financeira consumista do mês. Veio da Fnac, claro. Junto com esse DVD, havia alguns interessantes. A versão original de The Haunting of Hill House, um filme de tenebroso terror psicológico muito mais interessante do que a versão mais cheia de efeitos especiais dos anos 90. Uma nova edição do clássico de George Romero, A Noite Dos Mortos Vivos, no seu glorioso preto e branco, uma edição demasiado cara para um filme de que se faz download gratuito no internet archive (por incrível que pareça, o filme nunca teve direitos de autor). Outro clássico, muito mais acessível, é o Ladrão de Bagdad, um fabuloso filme mudo dos anos 20 com um Douglas Fairbanks aventureiro na Bagadad mítica de As Mil e Uma Noites.

Se me sobrar tempo, ou paciência, não seria nada má ideia escrever umas linhas (ou, talvez, parágrafos) sobre A Sombra Sobre Innsmouth, arquetípico conto de Lovecraft sobre os mitos de Cthulhu e em cuja tradução portuguesa aparece escrita a palavra parga - uma palavra que os ribatejanos de entre vós fácilmente reconhecem, mas que eu nunca tinha visto escrita.

Terminei a leitura de O Mortal Imortal (Contos Sobrenaturais) de Mary Shelley, numa edição da Editora Século XXI de 2001. Sobre o Mortal Imortal já escrevi. Todos os outros contos da colectânea estão já bastante datados, e a sua leitura apenas obedece a uma obrigação quase mecânica de uma certa curiosidade sobre a prosa de Mary Shelley. No entanto, não é um livro nada mau para coleccionar, se o encontrarem nas prateleiras empoeiradas de uma qualquer livraria.

Também tenciono olhar um pouco para o triste estado do nosso sistema educativo e da nossa profissão. As notícias sobre os rankings de escolas deveriam ser temperadas com um pouco de sal, mas não o estão a ser. E a entrevista da ministra da educação ao público, com as suas palavras sensatas de gestora consciente, deixou-me transido de medo pelo meu futuro profissional e financeiro. Uma dica: se a maior despesa do ministério são os salários, e se as progressões na carreira são a maior fonte de aumentos destes, qual será a lógica de um governo tão financeirista como este? Se não adivinham... pensam mesmo que não há nada nas entrelinhas em tudo o que se diz sobre as alterações ao sistema de progressões na carreira, com todas aquelas belas frases sobre valorizar os docentes que mais se esforçam pela escola?

Esta realidade é, francamente, mais aterrorizante do que os delírios mais insanos dos filmes (e livros) de terror.