Há dias em que há tempo para tudo e outros em que não há tempo para nada. Hoje deveria ser o meu dia livre. Um dia perfeito, com tempo para o blog (ando a ver se termino um post sobre The Great God Pan de Arthur Machen), tempo para desenhar (quer experimentar mais uns truques de Photoshop quer para o fazer à moda antiga, com lápis e papel), e tempo para ler. E também tempo para uma actividade muito mais importante do que todas estas: o meu passeio semanal pelas praia de Mil Regos, de preferência na maré baixa. A explorar o que já conheço, mas que nunca me canso de rever. A molhar os pés na água frígida do atlântico. Recolher, de forma compulsiva, todos os exemplares que encontrar de conchas. É esse o meu boião de sanidade semanal.
Hoje também queria ter lá levado a fera cá da casa, para ver se ela queimava as energias acumuladas destes dias em que fica em casa, quer por causa da chuva quer por causa do trabalho dos donos. Nunca me esqueço da primeira reacção do animal quando colocou as patas pela primeira vez na praia. Ficou cheia de curiosidade, perante aquela coisa branca e espumosa que tanto se aproximava dela e… apanhou um banho de supresa, enrolou-se nas ondas, e pronto. O susto foi tanto que mal chegava à praia nem na areia queria tocar. Felizmente passou-lhe, e agora quem quer ver o bicho contente leva-a à praia. Salta que nem um canguru nas rochas, mergulha que nem uma foca, pouco se importando com as temperaturas fresquíssimas das àguas das praias da ericeira, e delicia-se a escavar buracos pelo areal fora.
Mas não pode ser. Passo a manhã às voltas com as papeladas dos projectos curriculares de turma, caracterizações de turma, competências gerais e outros assuntos semelhantes de tão grande interesse. Pelo menos, quando comparados com os bons livros, e o tempo para pensar e desenhar.
O que mais me irrita é que vou ter de ir até à Venda à tarde. Marcaram-me uma reunião do centro de recursos, espaço onde trabalho durante uns longos quarenta e cinco minutos por semana. É possível que perca mais tempo hoje por causa daquela reunião do que todo o tempo que dispenderei no centro de recursos.
Conjugando esta reunião com as que terei quarta-feira e quinta-feira, com todo o trabalho que vou ter para a reunião da minha direcção de turma na quinta-feira, podem contar com um artur bastante mal humorado nestes dias. Cada vez mais detesto burocracias, papeladas e reuniões. Em todos os meus anos nesta indecente carreira docente, assisti a incontáveis reuniões, produzi incontáveis documentos e analisei toneladas de papeis. Felizmente nunca me fiei nisso para as minhas aulas. Se o fizesse, não conseguiria ensinar. Começa a fartar, esta nossa filosofia da grande importância do mesquinho.