sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Frankenstein



IMDB | Frankenstein (1931)
Mary Shelley: Frankenstein
Van der Graaf Generator

Mary Shelley, autora do conto O Mortal Imortal, obra que anda nestes momentos a repousar na minha mesa de cabeceira, foi a mulher de Shelley (Percy Bishe), o poeta romântico inglês do século XIX e uma sufragista precoce. É também a autora de uma das mais interessantes obras literárias sobre a ténue fronteira que separa o cientista dos deuses, que nos avisa dos tenebrosos destinos que a criação científica pode provocar quando o cientista se tenta sobrepor à natureza, como se um deus fosse. O romance em questão é Frankenstein, que todos pensam ser uma história de terror com um monstro verde cheio de cicatrizes que renasce após descargas elétricas provocadas por geradores van der graaf gigantes. Não é bem assim; Frankenstein não é o monstro. Essa criatura fabricada a partir de partes de cadáveres e gerada pelo poder das descargas eléctricas não é Frankenstein. Nem sequer chega a ter nome, e é uma criatura odiada por todos, inclusivamente pelo seu criador, que no fundo está perdida num mundo que não compreende, perdida num mundo onde nunca pediu para viver. Frankenstein é Viktor Frankenstein, protótipo do cientista louco que crê numa ciência todo-poderosa, num poder da razão que seja capaz de ultrapassar a própria morte. Horrorizado com a monstruosidade que a sua sanha racional gerou, Frankenstein dedica a sua vida a perseguir a criatura com o intuito de a aniquilar. A loucura do homem gera monstros. Cabe ao homem a responsabilidade de controlar os demónios que gera. Os monstros, cheios de tristeza, são apenas as pobres criaturas geradas pela loucura do homem. Ou, como diria Goya, o sono da razão gera monstros. O sono da razão, ou o sonho da razão?

O Frankenstein que todos conhecemos e amamos, o monstro esverdeado com a testa sobressaída, parafusos no pescoço e andar desengonçado foi uma criação de Boris Karloff no primeiro de muitos filmes sobre Frankenstein.