sábado, 8 de outubro de 2005

Earth Vs. The Flying Saucers



IMDB | Earth Vs. The Flying Saucers
Earth Vs The Flying Saucers

Earth Vs. The Flying Saucers é um filme clássico dos anos cinquenta. Típico filme de série B, inspirou-se no pânico dos discos voadores que varreu a américa dos anos cinquenta. Na sua forma simplista e inocente, o filme tenta desvendar o que aconteceria se a terra fosse invadida pelos discos voadores. O argumento soa familiar - no fim de contas, é em tudo semelhante a argumentos típicos dos filmes de ficção científica de série B, com variações minutas - por vezes, não são os extraterrestres que atacam, mas sim as suas criaturas monstruosas, ou, no caso do filme The Day The Earth Stood Still, as intenções dos extraterrestres são boas - desarmar a humanidade e atingir a paz mundial. Para consolo de intenções mais extremas, temos sempre os extraterrestres que roubam cadáveres do inenarrável Plan 9 From Outer Space, justíssimamente considerado o pior filme da história do cinema (e disponível para download no internet archive).



Earth Vs. The Flying Saucers desenrola-se de forma absolutamente previsível. Os satélites do programa espacial estão a desaparecer meras horas após o seu lançamento, e ninguém sabe porquê. O cientista-chefe do programa espacial americano é contactado pelos alienígenas, sem que se aperceba disso. Os alienígenas funcionam num tempo diferente do nosso, tornando as suas mensagens meros ruídos. O mistério é revelado quando o lançamento de um foguetão é interrompido pelos discos voadores, que aterram e destroem a instalação de pesquisa espacial. O rapto de um general americano e o contacto agora bem sucedido com o cientista-chefe de pesquisa espacial leva o cientista, acompanhado da mulher, um oficial do exército e um polícia ao interior da nave espacial, um sonho surrealista em que um objecto vagamente semelhante a uma rosa luminosa serve de tradução para que se perceba a mensagem dos alienígenas, que, inequivocamente, é uma mensagem de rendição. Se a Terra não se render, os discos voadores atacarão.

É aqui que o filme começa a ser interessante. Enquanto as defesas da terra se preparam, o cientista inventa uma nova arma: um raio sónico, capaz de fazer com que os discos voadores se despenham. No final do prazo do ultimato, os discos voadores atacam a cidade de Washington. As armas convencionais são impotentes para deterem os discos voadores; liderados pelo cientista, herói do filme, os militares utilizam os raios sónicos e derrotam o discos voadores. Fim.



Aquilo que acabei de descrever não parece assim tão interessante. No fundo, Earth Vs. The Flying Saucers é um típico filme de baixo orçamento, cheio de raios da morte, discos voadores demasiado semelhantes a pires de café, alienígenas com fatos baratos semelhantes a armaduras de borracha (se eles se mexem pouco, imaginem o que sofreram os duplos que tiveram de se meter naqueles fatos para representarem os alienígenas) e ruídos inquietantes produzidos por theremins. O argumento está cheio de frases perfeitamente camp, como honey, I have a hot date with a three stage rocket, que os actores de alguma forma conseguem dizer sem se desatarem às gargalhadas. As personagens secundárias limitam-se a ficar paradas, com olhares gravosos. E os alienígenas... esses, só visto.

O que torna Earth Vs. The Flying Saucers num clássico são os efeitos especiais, que ficaram ao cuidado de nada menos do que a lenda, Ray Harryhausen, de quem falei quando escrevi sobre Sinbad. Harryhausen, trabalhando com poucos recursos, realizou efeitos surpreendentes. As cenas finais, com os discos voadores a destruirem Washington, ficaram para a história do cinema. Estas são cenas memoráveis, como a cena em que um disco voador ao despenhar-se embate contra um obelisco, ou o disco voador que se despenha contra o edifício do capitólio. As interacções entre os discos voadores e os actores são magistrais, especialmente se levarmos em conta que todos os efeitos especiais são mecânicos. É fácil (relativamente) hoje em dia povoar uma cidade de discos voadores. Algumas horas em maya ou wavefront tratam disso. Mas Harryhausen e a sua equipa trabalhavam com argilas, fios de nylon e arames, pastas, máquinas de filmar frame a frame e ecrãs onde projectavam filmes onde as maquetes que construiam pareciam ampliadas em relação aos personagens humanos.



Para mim, a cena mais memorável é a de um combate entre um disco voador e um bombardeiro B-29. Harryhausen utilizou filmes de combate da II guerra, que mostravam um B-29 a ser abatido, explodir no ar e a despenhar-se. Projectou esse filme num ecrã, e filmou um dos seus discos voadores frente ao ecrã. O resultado foi uma belíssima cena de combate aéreo.

Earth Vs. The Flying Saucers pode não ter o apelo kitsch de Plan 9 from Outer Space. Pode não ter a mensagem profundamente pacifista e anti-nuclear de The Day The Earth Stood Still. Não tem, certamente, o estatuto de um filme como A Guerra dos Mundos (na versão dos anos 50!!!). Se olharmos apenas para o argumento, sentimo-nos tentados a esquecer este filme como uma das obras menores do cinema de série B. Mas se o fizessemos, perderíamos a oportunidade de nos deliciarmos com os maravilhosos efeitos especiais de Ray Harryhausen, mestre dos sonhos na película de celulóide.