Wired | E-Tutors: Outsourcing the Coach
Tenho de dar crédito à Wired. Em alguns artigos, tem-me ensinado mais sobre o futuro da minha profissão do que centenas de congressos educativos ainda centrados nos métodos educativos inventados nos anos que mediaram entre o final do século XVIII e do século XIX, misturadas com aquelas lamechices neo psicológicas dos anos 50 do século XX, ao melhor estilo pedagógico de Carl Rogers temperado com uns laivos de Rousseau (já morto, mas ainda não enterrado).
Primeiro, há quase oito anos atrás, foram as primeiras experiências com pda's na sala de aula levadas a cabo por docentes americanos viciados nos palms (claro). As salas de aulas portuguesas ainda não se habituaram a ver telemóveis 3G nas mãos dos alunos, quanto mais a tirar partido deles. Depois, ainda há anos, foi a novidade dos quadros interactivos, que ainda hoje em portugal são raríssimos. Seguiu-se a moda de entregar portáteis aos alunos, criando assim escolas totalmente digitais, em que todos os materiais (excepto, certamente, os relativos às congéneres do lado de lá do atlântico da minha disciplina) estão disponíveis online. Cá pelos nossos lados, parece haver uma experiência piloto para os lados de Leiria. Isto sem falar nos inúmeros artigos sobre trabalho colaborativo online e o uso de software dedicado à educação centrado em serviços web. Nós, por cá, consideramos que o melhor uso que a net pode ter para os nossos alunos é para pesquisas. Sabendo, como bem se sabe, que a net é práticamente inútil para pesquisas em que não se sabe precisamente o que se quer, e que a sua principal força está no permitir trabalho colaborativo e troca de experiências. A verdadeira força da internet está nos blogs e fotoblogs, no IM e nos fórums, não nas relativamente mais estáticas páginas.
Mas voltando ao assunto em questão. Se nós não soubermos tirar partido das tecnologias que nos rodeiam, outros o farão. E perderemos as oportunidades educativas propiciadas pela explosão das Tecnologias de Informação.
Nos EUA, a moda emergente é o chamado e-tutoring, que pode ser mais ou menos traduzível por explicações online. Duas ou três vezes por semana, o aluno senta-se frente ao computador e tem uma horinha de explicações via internet de matemática, ou física, ou uma disciplina similar. Esta ideia parece pouco revolucionária, até percebermos que o professor não está nos EUA, mas sim na India, pátria de formados em ciências muito bem preparados e que trabalham por um décimo do salário de um licenciado europeu ou americano. Mais uma barreira deitada abaixo pela combinação de novas tecnologias e capitalismo selvagem disfarçado de globalização económica.
Não vou perder tempo a opinar sobre se esta ideia é boa ou má. Prejudica certamente os professores americanos, preteridos nas explicações, mas facilita a vida aos muito mais pobres indianos, oferecendo-lhes uma oportunidade de trabalho ligada aos seus cursos que não implique emigrar. Até agora, ainda não descobri uma moeda que tivesse só uma face. O que é claro é que é inevitável, e é mais um exemplo da força da internet na transformação revolucionária da sociedade.