Ontem à noite, num barzinho aqui das redondezas onde estava a beber umas cervejas a mais, fiquei fascinado ao ver uma reportagem num daqueles canais esotéricos que devem ter mais funcionários do que espectadores, isto já incluindo aqueles incautos espectadores que, como eu, olhavam para o ecrã como uma forma de equilibrar uma cabeça sob assalto do alcool.
O programa era sobre skateboarding, e mostrava imagens fascinantes de putos empoleirados naquelas pranchas com rodinhas a fazerem manobras mirabolantes em escadas, corrimões, ruas e sebes de jardim. E em rampas, também. O que me fascinou não foram as manobras em si, exercícios de estilo comparáveis às manobras típicas de qualquer outro desporto de equilíbrio. Foi a relação fluida entre os skaters e a arquitectura.
Para nós, a arquitectura é estática. Constroi-se o prédio, e pronto. Lá fica. Constroi-se a casa, e pronto, os espaços pré-definidos eternizam-se. Por muita que seja a perícia do arquitecto em conjugar luz e formas para dinamizar os espaços arquitectónicos, criando novas visualizações e novas formas de relacionamento com o espaço, a arquitectura não flui. É estática. Quando muito, fluímos nós, ao passarmos em movimento pelas geometrias espaciais arquitectónicas recolhidos no casulo dos nossos medos, esperanças e responsabilidades.
Num extremo oposto, para um skater, o espaço arquitectónico é como uma onda que ele tem de dominar. Desafiando a gravidade, usa a arquitectura e os espaços detalhados da sua geometria fina como um ambiente de movimento. Nas mãos (pés) de um skater, a arquitectura torna-se em mais um vector de movimento. O skater move-se com a suavidade e violência de um acto sexual entre o corpo e os ângulos geométricos dos espaços arquitectónicos, mediado por uma prancha com rodas.