Jorge Palma ao vivo no Casino do Estoril
Ainda estou abalado pelo avassalador concerto que Jorge Palma deu ontem no Casino do Estoril. De Jorge Palma esperam-se essencialmente duas coisas: que cante aquelas canções que acompanharam a nossa vida, e que cometa gaffes em palco. Jorge Palma tem consistentemente composto da melhor música pop/rock que se faz em portugal. Ao falar dele, saltam-nos logo à memória os acordes e os versos de autênticos hinos da música portuguesa. Bairro do Amor, Dá-me Lume, Estrela do Mar, Deixa-me Rir, Portugal, Portugal, e tantas outras saídas do espírito deste compositor de génio. Também se sabe que Palma é dono de uma história de vida bastante, como hei de colocar isto, colorida e bem temperada pelo alcool e por drogas. Nos seus concertos, era habitual vê-lo a enganar-se nos ritmos e acordes, ou a esquecer-se dos versos que cantava. Aqueles que prestam atenção aos modos de vida dos célebres e famosos garantem que de há uns anos para cá Jorge Palma tem melhorado muito este aspecto. Mas isso não impede que perante um concerto de Jorge Palma o público espere ver algum desastre em cima do palco.
Jorge Palma deu logo o tom ao concerto chegando ao palco acopanhado por uma guitarra acústica que foi puxada aos limites, de tal forma que por várias vezes os técnicos de som tinham de voltar a prender aquelas jiga jogas cujo nome me escapa, mas captam o som da guitarra e... pickup's, creio. As falhas técnicas não sideraram Jorge Palma. "Ok, correu mal, take three" e força. Ainda a solo, martelou (tinham que estar lá e ouvir para perceber) algumas das suas clássicas canções ao piano. Sei que martelou dá a nossão de algo extremamente dissonante, mas não o foi. Ontem há noite, Palma, músico de excelência embora não de perfeição, músico do coração e não da razão, estava acelarado.
O concerto compôs-se com a entrada em palco da sua banda. Começaram por uns sets com canções do novo album de palma, mas quando começaram a tocar as canções clássicas de Jorge Palma o maravilhoso aconteceu. Todos conhecemos intimanente a sonoridade de canções como Dá-me Lume ou Deixa-me Rir, de forma que ao ouvi-las ao vivo, todos pensam já saber o que vão ouvir. Foi aí que Jorge Palma e a sua banda encantou, maravilhou e acendeu os espíritos com o mais puro rock. As velhas canções levaram uma roupagem blues e rythm n' blues, com fortes influências do som rock clássico ao melhor estilo Deep Purple. Sabem o som, guitarrada em frente, sinergia perfeita entre teclas, bateria, baixo e guitarra. A canção perde a expressão, a música liberta-se numa explosão criativa de acordes e ritmos que não deixam ninguém indiferentes.
O público foi ao rubro. Excitados pela energia da música, transformaram o jogo habitual dos encores num novo concerto. Seguindo a onda, Jorge Palma deu dois encores... e frequentadores mais assíduos de concertos do que eu sabem bem a raridade disto. Um encore, duas músicas para a despedida, e já está, agora vão para casa ouvir o disco, é o habitual.
Foi um concerto memorável, como já há muito não via e ouvia. Um delírio do mais puro rock.