sexta-feira, 2 de setembro de 2005

So How Does It Feel?

Jorge Palma ao vivo no Casino do Estoril

Ainda estou abalado pelo avassalador concerto que Jorge Palma deu ontem no Casino do Estoril. De Jorge Palma esperam-se essencialmente duas coisas: que cante aquelas canções que acompanharam a nossa vida, e que cometa gaffes em palco. Jorge Palma tem consistentemente composto da melhor música pop/rock que se faz em portugal. Ao falar dele, saltam-nos logo à memória os acordes e os versos de autênticos hinos da música portuguesa. Bairro do Amor, Dá-me Lume, Estrela do Mar, Deixa-me Rir, Portugal, Portugal, e tantas outras saídas do espírito deste compositor de génio. Também se sabe que Palma é dono de uma história de vida bastante, como hei de colocar isto, colorida e bem temperada pelo alcool e por drogas. Nos seus concertos, era habitual vê-lo a enganar-se nos ritmos e acordes, ou a esquecer-se dos versos que cantava. Aqueles que prestam atenção aos modos de vida dos célebres e famosos garantem que de há uns anos para cá Jorge Palma tem melhorado muito este aspecto. Mas isso não impede que perante um concerto de Jorge Palma o público espere ver algum desastre em cima do palco.

Jorge Palma deu logo o tom ao concerto chegando ao palco acopanhado por uma guitarra acústica que foi puxada aos limites, de tal forma que por várias vezes os técnicos de som tinham de voltar a prender aquelas jiga jogas cujo nome me escapa, mas captam o som da guitarra e... pickup's, creio. As falhas técnicas não sideraram Jorge Palma. "Ok, correu mal, take three" e força. Ainda a solo, martelou (tinham que estar lá e ouvir para perceber) algumas das suas clássicas canções ao piano. Sei que martelou dá a nossão de algo extremamente dissonante, mas não o foi. Ontem há noite, Palma, músico de excelência embora não de perfeição, músico do coração e não da razão, estava acelarado.

O concerto compôs-se com a entrada em palco da sua banda. Começaram por uns sets com canções do novo album de palma, mas quando começaram a tocar as canções clássicas de Jorge Palma o maravilhoso aconteceu. Todos conhecemos intimanente a sonoridade de canções como Dá-me Lume ou Deixa-me Rir, de forma que ao ouvi-las ao vivo, todos pensam já saber o que vão ouvir. Foi aí que Jorge Palma e a sua banda encantou, maravilhou e acendeu os espíritos com o mais puro rock. As velhas canções levaram uma roupagem blues e rythm n' blues, com fortes influências do som rock clássico ao melhor estilo Deep Purple. Sabem o som, guitarrada em frente, sinergia perfeita entre teclas, bateria, baixo e guitarra. A canção perde a expressão, a música liberta-se numa explosão criativa de acordes e ritmos que não deixam ninguém indiferentes.

O público foi ao rubro. Excitados pela energia da música, transformaram o jogo habitual dos encores num novo concerto. Seguindo a onda, Jorge Palma deu dois encores... e frequentadores mais assíduos de concertos do que eu sabem bem a raridade disto. Um encore, duas músicas para a despedida, e já está, agora vão para casa ouvir o disco, é o habitual.

Foi um concerto memorável, como já há muito não via e ouvia. Um delírio do mais puro rock.