O primeiro embate é sempre desconcertante. Sós, perante cinquenta pessoas, por muito bem preparados que estejamos, sentimo-nos sempre frágeis e titubeantes. Aquele belo discurso que preparámos tão bem sai, atravancado. O primeiro contacto não é limpo. É sempre um pouco confuso, embora se saiba que até se deixou boa impressão. É, na verdade, excessivo. Cinquenta pares de olhos ansiosos, olhando para nós, tentando dissecar-nos, julgar-nos, perceber-nos. É isso que me enerva, apesar de ser um momento ao qual já deveria estar mais do que habituado, calejado como já estou de reuniões de pais e afins.
O primeiro embate é sempre desconcertante. Como o embate da rocha nas ondas.
Amanhã começa, a sério. Amanhã será o primeiro dia de aulas. Esse é outro ponto de nervos: desde que sou aluno que a primeira aula me enerva. Mas agora, cinco minutos depois, a engrenagem entra em funcionamento e eu lembro-me de como gosto do meu trabalho, por mais chatices que dê, por mais que me obrigue a acordar cedo.