Dois dias sem blog? Passa-se alguma coisa? O autor destas linhas está doente, perdeu-se nalgum deserto ou desistiu de vez de escrever um blog que ninguém lê? Nada disso, nenhum acontecimento infeliz influenciou a rotina intergaláctica. Muito pelo contrário.
No passado sábado houve casamento. O irmão da minha namorada casou-se, nas terras barreirenses ao sul do tejo. Não vou contar os pormenores todos, senão transformava este blog numa revista feminina. Não vou fazer grandes discursos sobre o vestido da noiva, as vestes aprumadadas dos convidades e o arroz que, misturado com pétalas, caiu sobre a cabeças dos noivos recém-casados ao saírem da igreja. Mas não resisto a dizer que a noiva vinha com um sorriso a resplandecer, ao chegar à igreja num bentley azul. O casamento efectuou-se numa igreja de traça românica, com uma suspeita cúpula que me leva a jurar que algures nas brumas do tempo, já foi mesquita. Os típicos contrafortes e as ameias do românico português de zona de fonteira com a moirama não deixavam suspeitar um interior repleto com os despojos dos tempos passados. Azulejaria quinhentista e barroca, talhas douradas, tectos pintados num barroco suave, colunas maneiristas com aquela pureza renascentista. Felizmente que os nossos antepassados tinham menos respeito pelo património do que nós, senão hoje, ao entrar num templo como a igreja de Alhos Vedros, não descortinaríamos a poeira dos tempos passados.
O padre que oficiou a cerimónia, velho padre simpático de sorriso bonacheirão e ar paternalista, por várias vezes na cerimónia lembrou-nos do passado da igreja. Teria sido simples pedagogia, ou uma tentativa de, num momento solene, nos relembrar das nossas raízes?
O detalhe que mais me impressionou foi o momento de leitura dos votos de casamento. É sempre um daqueles momentos que nos faz parar a respiração, mesmo para aqueles que, como eu, não atribuem importância à religião. Mas concedo que há algo de profundo e eterno nos momentos solenes que nos faz parar. Se eu senti isso, a minha mãe, nesse momento, suspirou profundamente, sorriu, olhando para si, recordando o seu momento no altar. Palavras algumas foram ditas, mas a simplicidade e profundidade desse momento ficaram gravadas na minha mente.
É inútil dizer que foi um casamento bonito. Tudo, num casamento, é planeado para ser o mais belo possível, e sempre corresponde às expectativas. Para além disso, o que interessa é a felicidade dos noivos, que escolheram esse caminho, e a partilha dessa felicidade com aqueles que os acompanham neste mundo.
O copo de àgua foi dado numa aprazível quinta à beira-tejo. Num copo de àgua, o problema (para mim) é sempre a abundância de vinho e outras bebidas espirituosas. E como eu levo a peito a noção de que uma festa é altura de comer, beber e ser feliz...
Aos noivos, agora a aproximarem-se de uma praia cristalina mexicana, desejo-lhes as maiores felicidades.
E agora já chega. Os casamentos são sempre uma altura para desempoeirar as palavras lamechas e as expressões batidas, mas há desculpa: a solenidade e a felicidade de um casamento a isso nos obriga, e ficamos sem palavras para exprimir o que nos vai na alma. Sendo assim, socorremo-nos destas expressões cor de rosa, para tentar transmitir que gostámos, e que desejamos felicidade aos noivos.