segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Big Fish




IMDB | Big Fish

Autor de clássicos de culto como Eduardo Mãos de Tesoura ou O Pesadelo da Noite de Natal, Tim Burton sempre surpreendeu pela sua visão gótica e surreal da realidade que nos rodeia. Ao ver um filme de Burton, já sabemos que nos espera estranheza filmada com um olhar cristalino e plausível. Sabemos que temos o raro privilégio que é um filme comercial, produzido pelos grandes estúdios, com uma forte componente visual e conceptual de autor - uma raridade nos produtos embalados em hollywood. Claro que há bons filmes de Burton, e outros nem por isso - o Batman por ele realizado era bastante desinteressante, embora tivesse sido o melhor filme da série, e a recente adaptação de Roald Dahl, Charlie e a Fábrica de Chocolate, pecou por um final que desvirtuou completamente a obra, introduzindo coisas que não existiam no original literário.

Baseado num livro de Mike Wallace, autor inspirado nas idiossincrasias do sul americano, daquela zona quente e pantanosa do mississipi e alabama (e, nestes tempos que correm, submersa) de sotaque estranho e mansões georgianas abandonadas entre lagoas e chorões, Big Fish é um filme que nos mergulha num mundo fantástico, por vezes surreal, onde a realidade se entrelaça com o sonho. O filme termina com o final mais tristemente alegre que me recordo em cinema, onde o sorriso se mistura com a lágrima.

O filme é fácilmente resumível. Qual é a verdadeira dimensão da vida de um homem? A triste e deprimente realidade, ou o sonho que há dentro dele? Um filho conhece o pai pelas histórias exageradas que ele conta. Ao fim de anos a fio a ouvi-las, deixa de acreditar nele, querendo saber como era realmente, na triste e fria realidade, o seu pai. Ao longo do filme, ouvimos as histórias dele, quase sempre um exagero fantasioso com elementos do folclore e mitologia local. Na vida do contador de histórias, gigantes e anões de circo, paixões perfeitas e lutas teimosas, lobisomens, irmãs siamesas, poetas falhados transformados em tubarões da alta finança, cidades idílicas perdidas no meio do pântano cruzam-se de maneira fantástica, dando uma dimensão de sonho ao que de outra maneira teria sido mais uma vida banal. Exageradas ao ponto surreal, as histórias têm sempre um fundo real, talvez banal, mas um bom ponto de partida para se chegar ao sonho.

Ao ver o filme, fui recordado das palavras de António Gedeão: o sonho, comanda a vida. Big Fish é um filme de sonho, em que a realidade se transforma em sonho, e o sonho, esse, mantém-se sempre brilhante e inalterado.