quinta-feira, 21 de julho de 2005

Telefonema



Fiquei ontem profundamente surpreendido por um telefonema. Toca o telefone, uma voz que não reconheço diz "não acredito", e chama-me pelo nome. Então reconheci a voz, e um turbilhão de emoções e recordações invadiu-me. Tratava-se de uma velha amiga, alguém que numa altura da minha vida foi extremamente importante para mim, e que depois se foi afastando, tal como eu me fui afastando, mais uma amizade vítima das rotinas diárias do quotidiano, vítima da luta pelas responsabilidades do dia a dia, que nos ocupa o cérebro como um cancro que devora o melhor de que há em nós.

Ela é aquela típica pessoa em que se pensa quase todos os dias, por uma qualquer razão ou outra, e no pensamento surge logo aquela resolução de telefonar, ou mandar um e-mail, para saber alguma coisa dela. Novidades. Um simples olá. Mas essa resolução nunca é cumprida, há sempre algo mais premente a fazer. E assim as pessoas afastam-se, as geografias alteram-se, e quanto mais tempo passa maior a vergonha de tentar falar, saber se está tudo bem.

"Olá, como estás, e então, novidades?"

Sei bem o cabrão que sou, e já perdi a conta aos amigos que deixei sair assim de fininho da minha vida. Apenas me regojizo com o facto de saber que todos somos assim, que não sou o único cabrão que não telefona, nem dá notícias. Somos todos assim, enredados no imediato e esquecidos do que deveria durar muito tempo.

Fiquei contente, embora desconcertado. É difícil, depois de um longo silêncio, voltar a pegar nas pontas e falar. Mas isso resolve-se, quebrando o silêncio. Ouviste, amiga?



Por isso, cá vão estas imagens. Isto é a minha vida, a minha vila, os meus crepúsculos. Aquele pequeno detalhe de aturar os putos do concelho de mafra é só para arranjar dinheiro para pagar o meu estilo de vida à beira do mar da ericeira.

Um abraço para ti, amiga, ainda apesar dos anos e da vida que já nos separam, e a todos aqueles amigos esquecidos, recordados apenas num fugaz momento que a vida e a preguiça não nos deixam agarrar. E, já agora, é este o teu blog?