sexta-feira, 20 de maio de 2005

Star Wars

Laser Orbital


Bush likely to back weapons in space

Mas não essa, cujo sexto filme (terceiro episódio) estreou ontem, mas sim sobre a clássica guerra das estrelas dos anos oitenta. Quem se lembra dos velhos tempos da união soviética, com aquelas paradas militares ao longo da praça vermelha presididas por uns dinossaúricos Brejnevs, também se lembra das constantes iterações do conceito de guerra nuclear. Lembrem-se lá, vá. Esqueçam as tristezas dos sportings e os affaires sórdido-ridículos que povoam os media, pois tudo isso é transiente e destinado ao oblívio e esqueçimento. E lembrem-se dos tempos em que Lisboa desapareceria debaixo de um cogumelo nuclear, caso as coisas azedassem sériamente entre a Casa Branca e o Kremlin (o comando atlântico da NATO fica no estoril, o que quer dizer que passámos anos a fio com mísseis soviéticos apontados a Lisboa… nada mau para o portugal dos pequeninos, aquele país que parece passar sempre ao lado de tudo…).

Talvez se lembrem de um presidente americano que gostava de se armar em cowboy e iniciou a sua carreira política em westerns de série B e que agora, após a sua morte, começa a ser apontado como uma força positiva no colapso da URSS (nem vou discutir). Tinha eu os meus dez, ou menos, anos, quando esse presidente anunciou a SDI - iniciativa de defesa estratégica, que serviria para complementar o guarda-chuva nuclear de mísseis americanos (que nos protegeriam dos mísseis soviéticos do império do mal) e que consistia, básicamente, no desenvolvimento de armas espaciais - rail guns, satélites de caça, lasers orbitais e silos nucleares orbitais. Na sequência da recente estreia do episódio quarto - primeiro filme da Guerra das Estrelas, os media logo apelidaram este projecto de guerra das estrelas.

Alguns anos depois, após muitos protestos diplomáticos, algumas tecnologias desenvolvidas e rios de dinheiro gasto, a SDI foi abandonada, e juntou-se aos arquivos históricos naquela secção onde as quimeras tecnológicas se entrelaçam com as loucuras políticas.

A militarização do espaço é um dado adquirido - qualquer país com forças militares importantes dispõe de um comando espacial, mas a utilização militar do espaço, por consenso internacional, está limitada ao uso de satélites de observação. Nada de armas. O que, claro, vai muito contra a vontade dos estrategos militares, que adorariam ter umas armas completamente space age a orbitar sobre as suas cabeças (e as dos seus inimigos).

Estas reminiscências e pensamentos foram ressuscitados ontem por um artigo no Guardian, que indica a vontade do presidente Bush de dar um docinho aos que querem militarizar o espaço, tendo já removido uma série de barreiras legais ao uso militar do espaço por parte das forças armadas americanas. Os analistas falaram logo da colocação em órbita de satélites de caça (satélites capazes de reposicionar as suas órbitas, armados com armas capazes de destruir outros satélites), estrelas da morte (lasers orbitais de alta potência) e de varas de deus (a expressão inglesa é brutal - rods from god, e reflecte bem estes tempos de conflito com islamismos) - rail guns, que são acelaradores magnéticos de matéria inerte (acelerem em órbita um quilinho de tungsténio ou outro metal, e a soma da acelaração com a distância e a constante gravitacional implica que o quilinho de matéria inerte impacte o chão com uma força equivalente à de uma explosão nuclear).

Vai haver consequências, claro. Qual será o país que levará a bem a capacidade americana de o atingir com uma arma espacial de dez em dez minutos (o tempo médio que um satélite em órbita geostacionária demora a circundar a terra)? E, para além das tempestades diplomáticas, temos aí uma nova corrida às armas - os russos, ainda com uma capacidade espacial de respeito, e os chineses, com uma indústria espacial tremenda e emergente, não ficarão quietos. E, talvez, quem sabe, nós europeus também não começemos a usar Kourou para lançamento de cargas militares… é um cenário ideal de ficção científica, mas pouco tranquilo, que se desenha.