Os miúdos têm muitas virtudes. Ontem, numa aula que dei, fui às lágrimas de tanto rir com a atitude de um aluno.
Como estou a ver se faço um teatrinho com aquela turma, propus ontem aos alunos um exercício simples para treino de voz e postura corporal. Era dada uma palavra aos alunos, e era-lhes pedido que representassem a emoção contida nessa palavra, frente a toda a turma. Os resultados foram os esperados. No lugar, perante a "representação" dos colegas, todos tinham ideias sobre qual a melhor maneira de representar. Quando chegava a vez de se apresentarem, no entanto, a maior parte mal conseguia representar, perante a pressão de tantos olhos cravados sobre eles. A maioria lá consegue, safa-se como pode. Alguns descobrem-se com talento natural para a representação, o que é sempre muito bom. E alguns bloqueiam por completo, incapazes de ultrapassar a barreira da timidez e das inibições. Mas um houve que me surpreendeu por completo.
Antes de mais, deixem-me dizer que o miúdo é completamente disléxico. Nem consegue distinguir as letras do alfabeto. Mas tem outros talentos - dêem-lhe um pincel, e logo se vê do que ele é capaz. Perante a tarefa de representar a emoção contida numa palavra - tristíssimo, o rapaz fez o seguinte: com o seu ar apequenado e meio apagado, começa a recitar, numa voz fanhosa (que lhe é natural), que estava tristíssimo porque "tinha a avó no hospital o pai estava doente na cama a mãe também se tinha deitado, e depois a mãe também ficou doente e precisou de ir para o hospital para se curar e saiu com um bébé..."~
Dito com o ar mais inocente deste planeta (e arredores).
Foi tudo às lágrimas de tanto rir.