Béla Bartók
Béla Bartók
The Shining (IMDB)
Krzystof Penderecki
J. S. Bach
Curiosamente, a minha introdução à música clássica foi com o filme The Shining, de Stanley Kubrick. O enredo do filme é baseado num livro do mestre do terror, Stephen King, e conta-nos o que acontece quando uma família passa um inverno isolada num hotel do Colorado. O pai de família é um homem que tenta ser escritor, e o filho é uma criança sensível, capaz de sentir aquilo que outros não sentem - acontecimentos passados, premonições futuras. E o hotel era um local maldito, assombrado por acontecimentos sangrentos de um passado recente. Há medida que o inverno passa, e o isolamento se adensa, o pai, representado brilhantemente por Jack Nicholson, entra numa queda em parafuso psicológica, com sangrentas alucinações à mistura, que o leva a tentar desmembrar a família com o machado. A história tem duas leituras. Por um lado, temos o conto de terror, sobre o oculto, temível e assustador. Por outro lado, temos os efeitos do isolamento absoluto, e o falhanço da mente do personagem de Jack Nicholson, que se desmorona ao perceber que não consegue atingir a sua maior ambição - escrever um livro. Nesta obra, o falhanço criativo leva ao delírio e ao uso de machados pouco afiados.
Mas o que mais me impressionou no filme foi a música. Era estranha, diferente de tudo o que havia ouvido até então. A música clássica está sempre presente, e todos conhecem algumas melodias mais acessíveis, como as Quatro Estações de Vivaldi, ou a Carmen de Bizet, talvez a Nessun Dorma, de Puccini, a Quinta Sinfonia de Beethoven, com o Hino à Alegria, um pouco de Mozart, ou a Cavaleria Rusticana (e aqui falha-me o compositor). Mas a música que Kubrick escolheu para o filme, nunca tinha ouvido tal música.
Era poderosa, dissonante, profunda, assustadora. Quando o filme terminou, nos créditos, apareceram os nomes de Béla Bartók, Krysztof Penderecki e Gyorgy Ligetti.
Quem? Nomes impronunciáveis? Música assombradoramente diferente?
O início do filme é inesquecível. Uma sinfonia, penso que de Penderecki, ressoa, enquanto um minúsculo Volkswagen Carocha branco circula perdido na imensidão dos vales do rio Colorado. Uma das minhas grandes frustrações é ainda não ter descoberto que sinfonia. Kubrick, esse maroto, apenas indicou o nome dos compositores... (nota mental: gastar mais uns € em cds de Penderecki)
Durante o filme, somos surpreendidos com intrigantes peças musicais, que nos envolvem no terror do filme. E no final, no delirante e assustador final, outra potente Sinfonia, esta de Béla Bartók.
Tive de os descobrir. Fui procurar Penderecki, e encontrei a sua avassaladora Segunda Sinfonia. Ligetti desiludiu-me - encontrei apenas obras para piano, e eu tenho uma relação curiosa com o piano. E Béla Bartók... aí, acertei. Encontrei a exacta sinfonia com que Kubrick me impressionou. Leitores atentos e inexistentes, recomendo sériamente que ouçam a Música para Cordas, Percussão e Celesta, Sz.106. Vai mudar a vossa vida.
Mas aqui falámos de música contemporânea.
A música clássica é ao mesmo tempo acessível e inacessível. O que não faltam são gravações de obras dos grandes (e dos menos grandes) compositores, com vários preços e variações (infelizmente, os € sempre foram uma preocupação). Mas por onde começar? Pelos clássicos, já um pouco bolorentos de tantas audições? Arriscar? Grande parte das gravações clássicas são interpretações, e quando se desconhece, ouvir algo desconhecido tende a dificultar as coisas.
Que fazer? Há sempre as colecções da Naxos, a baixo preço, e algumas edições da EMI e da Deutsche Grammophon. E é arriscar...
O primeiro Cd clássico em que arrisquei foi uma interpretação de Vivaldi, As Quatro Estações, acompanhado do Adagio de Albinoni e do Concerto para a Noite de Natal de Corelli. As Quatro Estações fascinaram-me, o Adagio tanto o ouvi que me cansei, e Corelli... vim mais tarde a apaixonar-me pela música deste compositor barroco.
Em seguida descobri Bach. Bach, considerado um dos génios, levou-me a aprofundar mais o meu conhecimento de música, e despoletou em mim a vontade de conhecer as grandes sinfonias e obras musicais de todos os tempos. Daí em diante, passei a arriscar - e descobri a Sheherezade de Rimsky-Korsakov, Turandot de Puccini, as sinfonias de Beethoven, a Missa em Si Menor de Bach, Romeu e Julieta, de Tchaikovsky... tantas, inúmeráveis, avassaladoras, imponentes, apaixonantes.
O que me falta ouvir? Aquilo que é menos acessível. Xenakis, Emanuel Nunes, Stravinsky, Boulez, mais Penderecki, Stockhausen... algumas coisas já conheço, outras terei de arriscar.
Sugestões?