segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Alba, II

Página de Edurado Kac


A coelhinha de Eduardo Kac é mais do que um mini-escândalo ou propaganda. Levanta profundas questões sobre o significado da arte, do papel do artista, e do significado da ciência.

A alba segue a tradição iniciada no século XX com os ready-mades de Duchamp ou algumas obras de Moholy-Nagy - em que o artista surge como teorizador e criador, mas não como construtor. O obejcto artístico tanto pode ser algo encontrado, como mandado fazer por artesãos. O valor artístico está não no objecto em si, mas sim no processo de criação. Isto quebra com a tradição do artista como um artesão superior e esclarecido, um mestre da pintura ou da escultura. Kac não pintou nem esculpiu Alba - encomendou-a a um laboratório francês. Então, o que é o artista? Um teórico na sua torre de marfim, manipulando e direccionando artesãos, ou um fazedor?

E quanto ao objecto em si? Alba não é uma pintura ou escultura, é uma coelha. Um ser vivo, não um objecto. Será o objecto de arte mais do que um simples objecto? Temos tendência a olhar para a arte como objecto - pinturas, quadros, desenhos, esculturas. Edifícios. Artes como a dança, a música e as performances poem em questão o domínio do objecto enquanto produto da arte. Alba eleva esta questão a órbitas geoestacionárias.

Para que serve a ciência? Alba é um animal genéticamente modificado. Para que serve a pesquisa científica? Qual será o impacto da ciência genética, e qual a posição ética de um cientista que manipula os genes de um animal para o prazer estético de um artista?

Se estas questões tivessem resposta, Alba seria um trabalho artístico desinteressante.