Sendo professor, e muitas vezes director de turma, sou muito confrontado com pais em pânico, que me perguntam, desesperados, "professor, o que é que eu faço com o meu filho?"
Quando intervimos junto de crianças, não há receitas. Não existe uma fórmula que se possa aplicar, comum a todos, cujo resultado à partida já conhecemos. Existem sim ideias e estratégias, que têm de ser modificadas e adaptadas em função das necessidades e problemáticas da criança.
Perante os sucessos e insucessos do aluno nas actividades escolares, há um conjunto de ideias e estratégias que se podem conjugar para orientar o aluno de forma a melhorar o seu sucesso escolar. A conjugação da estruturação de tempos de estudo com as noções de reforço positivo e reforço negativo poderão ser uma estratégia de intervenção efectiva, que se operacionalizaria da seguinte forma:
- Encontrar um ponto de interesse da criança: uma actividade extra-curricular, um momento de brincadeira (tempos passados a jogar em playstations ou similares, por exemplo), uma actividade ou objecto. O ponto de interesse funciona como recompensa, e isso deve ficar bem expresso junto da criança.
- Estruturar sessões de trabalho e objectivos escolares: estabelecer com a criança uma estrutura de trabalho e objectivos bem definidos que lhe permitam ter acesso às recompensas estruturadas. Por exemplo, para ter acesso a um objecto, ou manter-se numa actividade extra-curricular, a criança terá de se empenhar nas actividades escolares, tendo como objectivo ter avaliações positivas em testes e trabalhos. Estes objectivos não podem ser definidos a curto prazo, mas podem ser "desmontados" - o grande objectivo é, por exemplo, ter positiva no final do período a História. Os "pequenos" objectivos seriam ter uma nota positiva no primeiro teste da disciplina e igualar ou melhorar essa nota no segundo teste.
- Para estruturar sessões de trabalho (que se interligam com os objectivos anteriores, mas a curto prazo), têm de ser dados como recompensa actividades imediatas: uma sessão de estudo efectivo, com controle por parte dos pais, leva a uma recompensa: uma hora de estudo diário, com revisão de matérias dadas e realização de trabalhos de casa, seria recompensável com um tempo passado a jogar ou a brincar com os amigos.
- Reforço positivo: esta estratégia, da forma como está estruturada, já leva em conta a noção de reforço positivo. No entanto, é importante demonstrar através de palavras e gestos agrado e contentamento perante o empenho da criança, o trabalho revelado e os objectivos atingidos.
- Ser coerente: isto significa não perdoar deslizes. Aqui entra a noção de reforço negativo. No entanto, o não perdoar deslizes nunca poderá funcionar como castigo/punição. Se a criança não cumpre, por exemplo, uma sessão de estudo, não terá direito apenas à recompensa préviamente definida. Mas o reforço negativo terá de ficar necessáriamente por aqui, senão corre-se o risco de a criança ficar desmotivada para os objectivos que se esperam dela.
Quanto à questão das subculturas e interesses manifestados pela criança, a simples proibição não funciona. Não se ganha uma "luta" cultural. Uma característica das várias gerações é o de adoptar ideias e estruturas culturais que estão em oposição às ideias e estruturas culturais da geração anterior. Também não vale a pena demonstrar um interesse excessivo e falso - as crianças conseguem detectar estas "falsidades" a quilómetros de distância. Sugiro uma aceitação, uma partilha, com alguma estruturação (conversando com a criança sobre os riscos dos lados mais perigosos e obscuros da subcultura pela qual esta mostra interesse), bem como estimulação perante outras formas culturais. Parece-me preferível que a criança desenhe tags e grafittis em papel à frente dos pais do que subreptíciamente, possívelmente com companhias pouco recomendáveis.
Espero que ajude. Senão, entreguem as crianças a quem quiserem e fujam para paraísos mais quentes.