Ainda a refletir no impacto sensorial e emocional de carne.exe, a performance onde um ator interage em palco com algoritmos de inteligência artificial generativa treinados pelos criadores. Não é um mero artifício estilístico, a forma como antropomorfizamos e criamos relações emocionais com o que grosso modo são algoritmos probabilisticos está no cerne desta performance. Deixa-nos a pensar sobre humanismo, biohacking, relações humanas mediadas por tecnologia, traumas, solidão, dor e memória, a facilidade com que atribuímos emoções ao artificial. A performance é uma experiência espantosa. O algoritmo generativo visual gera imagens animadas a partir da interacção com o ator. O trabalho de Albano Jerónimo é de um tocante diálogo emocional. Os diálogos incorporam um lllm. Isto significa que a cada nova exibição, a performance será sempre diferente (é natural, sendo generativa). Esse é um pormenor humanista, recordando que no teatro mais puro, nunca há duas representações exatamente iguais, e trazendo IA generativa para isto quebra a exactidão de reprodução a que o digital nos habituou.
Assisti à primeira de três sessões esgotadas no CAM, mas já corre que provavelmente esta performance se irá repetir. Se sim, recomendo que não percam esta experiência de IA generativa artística. Os ZABRA estão a marcar por cá a vanguarda experimental de interseção entre arte e tecnologia, com projetos estimulantes, desafiantes e belos. Esta performance pioneira (divulgada em muitos média com um redutor "o ator Albano Jerónimo contracena com um computador") representa bem o caminho inovador deste grupo de jovens artistas.
Não resisto ao pormenor: aqueles sapatos são incríveis, terão tido origem em design generativo aplicado à impressão 3D?




