terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Comics: Les légendes Marvel N°03 : 1966; O Doutor Estranho da Morte; Les Legendes Marvel Nº 04: 1979


Les légendes Marvel N°03 : 1966
. Panini.

Um volume interessante desta coleção francesa da Panini. Destaca-se de outros da coleção por só conter histórias completas, todas publicadas em 1966. O Homem Aranha abre a colectânea com a história da origem e desmascaramento do Duede Verde original. Segue-se a clássica história do Quarteto Fantástico This Man, This Monster, que desconhecia e surpreendeu. Encontramos de seguida o combate entre Capitão América e Red Skull pela posse do cubo cósmico. Lê-se uma aventura de Nick Fury Agent of SHIELD em combate contra a AIM, um recontro entre Dr. Doom e os Vingadores, e termina com outra aventura de Fury, desta vez como Howling Commando na II Guerra. A pérola do livro é a aventura onde Dr. Strange testemunha Dormammu a ser aniquilado pela Eternidade, desenhado no surrealismo psicadélico pop de Steve Ditko. Não são portentos intelectuais, e ainda muito longe dos comics mais maduros dos anos 80 em diante. Valem pela sua inocência, e pelo mergulho no traço dos ilustradores da época. O livro traz-nos o inimitável Jack Kirby, o surreal Ditko, e os talentos mais convencionais de Don Heck, Dick Ayers e John Romita Sr..


O Doutor Estranho da Morte. Panini.

A morte do Feiticeiro Supremo, o seu aparente regresso como emissário da M0rte, e o emergir da feiticeira alienígia Clea como uma muito implacável Feiticeira Suprema da Terra foi um divertido momento na cronologia narrativa de Doutor Estranho. A incosolável Clea assume o manto de protetora mística do planeta, de uma maneira muito própria, e depara-se com o regresso de Stephen Strange como uma força protetora ligada à morte. Um regresso doloroso, visto que os dois amantes são pólos opostos da mesma ideia, e não se podem tocar. Mas terão de unir esforços para combater uma organização terrorista mística, e ao fazê-lo, à beira da derrota, unem-se num último abraço, que os transforma numa força superior, e com o condão de libertar Strange da condição de falecido. Uma sequência de aventuras divertida, com uma belíssima ilustração naquele estilo místico-surreal que é um dos melhores aspetos deste personagem.


Les Legendes Marvel Nº 04: 1979

Sou um pouco parcial em pensar que a viragem dos anos 70 para os 80 foi o momento de um enorme salto nos comics. Em parte, porque aprendi a gostar lendo-os nessa época. Mas se na altura os apreciava, é porque de facto a viragem para os 80 trouxe aos comics novos criadores, que impuseram estéticas arrojadas e narrativas mais complexas. Foi o início da afirmação de um género que conseguiu ultrapassar o simplismo, afirmar complexidade, e almejar tornar-se leitura para um público mais adulto, algo que viria a conseguir com a génese das graphic novels, bem como com séries dedicadas. Mas sem o lado inovador no desenho e escrita, nada disto seria possível, e o género estaria hoje extinto. A evolução dos tempos não é clemente com culturas pop que não se renovam e se ficam pela fórmula arcaica.

Esta antologia da Panini mostra bem essa viragem qualitativa. O estilo gráfico deixou de ser básico, nota-se a procura pela qualidade estética, e o uso dos recursos gramaticais da BD. As histórias atrevem-se a entrar no mundo interior de personagens que até à época eram bidimensionais. Os heróis passam a ter vida própria, dramas interiores profundos, dilemas pessoas que se sobrepõem ao habitual pessoa musculada que resolve crimes ao murro. Até Hulk, talvez a epítome da acefalia, ganha vida interior nesta época.