Jonuel Gonçalves (2018). E se Angola Tivesse Proclamado a Independência em 1959?. Lisboa: Guerra e Paz.
Um intrigante exercício de especulação e história alternativa, com que me deparei naqueles acasos de papelaria. O autor, ligado à história e, pelo que percebi, alguém que esteve envolvido na luta pela independência de Angola, faz uma pergunta simples: e se, em vez dos longos anos de guerra colonial, seguidos da guerra civil, os movimentos independentistas angolanos tivessem arriscado um golpe de mão e conseguido avançar com a libertação do território?
É um curioso "e se", que assinala que o território colonizado estava defendido por forças complacentes, mal armadas e em número insuficiente para travar uma guerra, algo que na realidade histórica veio a mudar nos anos seguintes, para mal de todos. No cenário especulativo, um pequeno grupo de rebeldes angolanos consegue assaltar esquadras e lojas de armeiros, adquirindo armas suficientes para neutralizar as débeis defesas coloniais e ocupar as principais cidades angolanas. Os colonos resistem, e uma intervenção metropolitana de pára-quedistas, com apoio sul africano, conseguem segurar territórios no sul do país. Mas as tensões geopolíticas, o risco de confrontos com a União Soviética, os novos países africanos independentes e o apoio indiano levam a discussões nas Nações Unidas, e a uma posição de força americana, que desloca soldados para a base das Lajes, num sinal ao governo salazarista que se arrisca a perder mais do que a colónia angolana caso não aceda à intervenção da ONU e aceite os resultados de um referendo que irá decidir o futuro do território.
Esta história é contada num ritmo telegráfico, por escolha estilística do autor, que pretente simular relatos e relatórios. Não é nenhum empolgante portento narrativo, mas mantém o interesse de quem aprecia voos especulativos. O interesse aguça-se por ser uma obra de fição especulativa que olha para a história recente, quer angolana quer portuguesa.