Nuno Ferreira (2024). A Conversão dos Nus. Vagos: Divergência.
Não resisti à apresentação deste livro no Fórum Fantástico 2024 (que não foi muito concorrida, infelizmente). Os livros no Nuno são para mim uma fonte de frustração. Confesso, já tentei várias vezes ler o Embaixada, mas ainda não pegou. Não leiam isto como um comentário às suas capacidades literárias, é um escritor com fãs e um espaço bem marcado, é mais uma assunção da minha incapacidade de lidar com a fantasia épica. Bem tento, mas não é mesmo a minha cena.
Neste romance, o tom muda, e Nuno Ferreira oferece-nos uma história que cruza o romance histórico com fantástico. O destaque é dado ao Portugal sob domínio Filipino, e aos tempos de início da revolta que nos restaurou a independência. O lado fantástico é assegurado por manifestações de religiosidade que colocam o corpo e alma dos iluminados pela chama divina a nu.
A ação passa-se na aldeia fictícia de Mouta Alta, usada para elaborar um convincente e bem estruturado da vida no Portugal seiscentista. Acompanhamos um assassino a soldo, que leva a encomenda de matar o padre da aldeia, mas o enredo complica-se quando percebemos que o assassino nasceu na terra onde volta para matar. O resto, é uma sucessão de intrigas complexas, onde ninguém é o que parece, com consequências destrutivas para os aldeãos.
O mistério paira sobre uma igreja recém-construída, cuja inauguração dá aos conspiradores o mote para inicar a vaga de acontecimentos que irá arrasar a vila. A igreja torna-se um local onde quem entra, sai convertido à nudez, despoja-se de roupas e atavismos sociais, deixa para lá o respeito ao poder ecleciástico, e assume uma bondade natural. Algo que atrai as atenções da Inquisição, e terá consequências muito inesperadas ao longo da história.
Cruzando romance histórico com fantástico misticista, esta Conversão dos Nus é uma excelente leitura que nos mergulha em intricadas conspirações no Portugal seiscentista. Mistério e ficção histórica de mãos dadas, num livro que mostra uma outra faceta de um escritor normalmente mais focado na fantasia épica.