Luís Thomaz (2023). Nanbanjin - Os Portugueses No Japão. Lisboa: Gradiva.
Um curto livro, que se constrói de enorme erudição histórica e uma visão crítica sobre a expansão portuguesa. A nossa presença no Japão é o tema do livro, e no fundo o destino de uma viagem que se inicia em Ceuta e termina com a expulsão dos ocidentais das terras do sol nascente (mais por culpa de religiosos espanhóis do que pelas acções portuguesas.
Na óptica deste livro, os descobrimentos portugueses são ao mesmo tempo um jogo geostratégico global e uma busca por riquezas comerciais, com a segunda a tomar a primazia sobre a primeira. Thomaz situa as viagens náuticas portuguesas nos jogos políticos do final da idade média, com a coroa portuguesa a querer expandir a guerra contra o islão nas terras de Marrocos e, em simultâneo, explorar os caminhos para o oriente, procurando pontes territoriais com as míticas terras do Preste-João, e com isso fechar o mundo islâmico numa tenaz de forças convergentes atlânticas, cruzadas europeias e baluartes etíopes.
Se essa era a visão da coroa, não era muito partilhada pelos súbditos, que preferiam enriquecer com o comércio ou o corso. Estas duas visões moldaram os tempos aúreos da presença portuguesa no oriente, um misto de trato comercial, conquista estratégica para controlo de vias comerciais, pirataria e trocas culturais, com os portugueses a tornarem-se mais um elemento do melting pot da Índia e extremo oriente. Como bem nos recorda o autor, não podemos analisar esta historia à luz das visões colonialistas, que assentam num tipo de ideário de expansão territorial e exploração de recursos que só tomou forma no século XIX.
Por entre explorações e tratos comerciais, os portugueses expandiram-se pelo extremo oriente, esbarrando com a isolacionista China, e eventualmente chegaram ao Japão, numa história de amizades, trocas culturais e tecnológicas (das quais as armas de fogo é o aspeto mais conhecido), e a inevitável evangelização do padroado da Índia, que veio a provocar nos senhores feudais japoneses que disputavam constantemente entre si o poder de facto sobre as terras japonesas (o de jure pertencia ao imperador, mera figura de veneração nestes tempos) a apreensão de deixarem de se subjugar à nominal mas tradicional autoridade imperial.
Em poucas páginas, repletas de análise histórica, Thomaz traça o percurso que nos levou ao Japão, mostrando as várias tendências que o moldaram.