Beckert D'Assumpção (1989). Novos Mundos ao Mundo. Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Tenho um gosto estranho, talvez masoquista, por ler antigos livros de divulgação histórica sobre os descobrimentos que encontro no acaso dos alfarrabistas. O masoquismo vem do choque com modos mais arcaicos de escrever e entender a história, ainda vista como uma glorificação de feitos e gestas, sem o necessário sentido crítico que nos dá uma imagem mais completa da complexidade do passado. Há um certo sabor a riscos nestas leituras, falar destes momentos na nossa história é algo que requer alguns cuidados, vivem-se momentos de extremismo de posições entre aqueles que insistem numa visão heroicista dos descobrimentos, e os que sublinham a vitimização, a escravatura, a violência exercida sobre povos indígenas. Duas visões antagónicas que não satisfazem quem não for zelota de algum destes campos, até porque a complexidade histórica mostra-nos que foi tudo isto, heroísmo e violência, esclavagismo e trocas culturais, falando só de alguns dos aspetos mais discutidos. Mas, entricheirar-se em posições extremas é mais confortável, e apontar o dedo requer menos trabalho intelectual do que tentar compreender o cenário maior.
Este livro insere-se numa visão que romantiza os descobrimentos. Não pretende ser profundo, mas é rigoroso na sua narrativa temporal. Fala-nos dos grandes nomes, mas, num pormenor interessante, fala-nos também de pequenos nomes (provavelmente inventados), procurando mostrar que esta saga também foi feita dos desejos e temores de muita gente comum. O tom é poético, mitificante, algo arcaico mas interessante de ler. É sempre bom temperar ideias, cruzar diferentes perspetivas, e desfrutar destas visões menos complexas face às sensibilidades de hoje.