Bora Chung (2017). Cursed Bunny. Stockport: Honford Star.
Uma muito surpreendente coleção de contos cruéis. Histórias curtas que iniciam sempre de forma algo decepcionante, com uma profunda normalidade típica de ficções mais mainstream, tão normal que nem damos pela estranheza a entranhar-se. E, quando nos apercebemos, a sensação de surpresa nunca falha, o conto segue sempre por um caminho inesperado, surreal. É um padrão constante em todos os contos, todos nos surpreendem algures durante a sua leitura.
Cursed Bunny é um livro difícil de definir. Não é assumidamente de género, embora se socorra do horror, do fantástico e da ficção científica, aliás, os contos nem funcionariam sem estas influências. Estas manifestam-se de duas formas. A mais notória é a temática, os contos oscilam entre o fantástico, o terror subtil, e a ficção cientifica (o conto que envolve ammor e andróides é, diria, praticamente uma inesperada obra prima que inverte por completo as habituais tropes do género). Mas a principal influência de género é estrutural, Bora Chung usa na perfeição a estratégia do inesperado, do volte-face, da punch-line, do final surpreendente que o leitor não estava a antever.