domingo, 9 de julho de 2023

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Esta semana, destacam-se listas literárias, a origem do termo ciberespaço, e as agruras dos escritores na era TikTok. Olha-se para chatbots que permitme falar com deuses, os medos da IA como forma de distração, e uma história da Realidade Virtual. Reflete-se sobre culturas de cancelamento online, o alfabeto como forma de revolta política, e visões do real. 

Ficção Científica e Cultura Pop

60s and 70s sci fi novels from my grandfather’s collection: Capa clássica para um dos mais divertidos livros de Moorcock.

10 Killer Robert Englund Horror Roles Beyond Nightmare on Elm Street: Há as scream queens, as divas do cinema de terror. E há o scream king, o ator que encarnou o icónico Freddy Krueger mas tem uma carreira no horror que vai muito para além desses filmes.

The Best Modernist Novels, recommended by Michael Clune: A estética do modernismo literário está viva e de boa saúde, como mostra esta lista de leituras, que tem o condão de fugir aos autores mais óbvios. Sem Woolf nem Joyce, mas com ficção científica (pois, também fiquei surpreendido) e autores nossos contemporâneos.

William Gibson on how he coined the word "cyberspace" (video): A origem do termo que melhor define essa alucinação digital consensual em que hoje todos vivemos.

Welcome to the new surreal. How AI-generated video is changing film: Para quem acha que a arte baseada na IA Generativa é só ir ao Midjourney e escrever prompts, a coisa tem muito mais que se lhe diga. As ferramentas de vídeo generativo ainda são recentíssimas, mas já há criadores a experimentar e procurar novas estéticas.

Publisher Drops Author After TikTok Backlash and GoodReads Review Bombing: Esta coisa da proximidade entre autores e leitores trazida pelas redes sociais é uma faca de dois gumes, especialmente numa era onde a tendência para carneiradas online é elevada. Basta alguém sentir-se agastado, e logo se geram ondas de protesto global.

4948) Democracia e linguagem: Sobre correção linguística, mas também a forma como a evolução da linguagem espelha a vontade dos seus falantes.

John Carpenter Wrapped Directing "Suburban Screams" – From His Couch: É sempre uma boa notícia, saber que teremos mais um Carpenter para ver, mesmo que seja na televisão.

Six Books That Feel Like Puzzles: Livros cuja leitura é um processo contínuo de decifração de camadas de significado.

San Ginés Book Shop in Madrid, Spain: Confesso que sempre que lá passo, fico frustrado, ainda não consegui levar um livro desta lendária livraria para a minha biblioteca.

Five SFF Stories in Which Kids Save the Day: A puxar ao lado mais juvenil do género, alguns livros onde os heróis são os jovens.

Real-Life Infrastructure That Looks Like Sci-Fi: Quando a ciência e a tecnologia nos dão visões do real que são mais extraordinárias do que os sonhos da ficção.

46 Books that Changed the World: Se definir o que é mudar o mundo, todos sabemos que há livros que deixaram uma marca demasiado forte, que de facto lê-los mudou mentalidades. Nesta lista, encontram os suspeitos do costume, e mais algumas obras intrigantes.

Tecnologia

Robert McCall: Sonhos orbitais.

When AI Is Making Music, Where Do the Humans Fit In?: Como tudo na vida, depende. Se os algoritmos forem usados como mera réplica do que já existe, para criar música a metro, a perda cultural é grande. Mas há muitos músicos que seguem outros caminhos, que exploram a IA para procurar novas sonoridades.

NVIDIA's Neuralangelo is an AI model that can generate 3D objects from 2D videos: Isto parece-me a evolução óbvia das NeRFS, um salto qualitativo para uma tecnologia que cruza Inteligência Artificial e digitalização 3D.

The AI revolution is about to take over your web browser: Para quê ler páginas web, se um assistente inteligente o pode fazer por nós, e dar-nos um resumo? Na verdade, este tipo de ferramentas faz imenso sentido, permite-nos ganhar tempo de análise ao automatizar processos de leitura.

New "Camera" Has No Lens, Simply Detects Your Location and Generates an AI Picture of It: Este projeto é conceptualmente brilhante, mostra bem como a imagem digital é em essência uma conceptualização artificial baseada em interpretações tecnológicas do real.

In India Chatbots Are Answering Questions As Gods: Daquelas coisas que se lê e soa a exagero de ficção cyberpunk, mas até faz sentido. Usar chatbots inteligentes para simular conversas com deuses, o que é que poderá correr mal? Cruzemos a cegueira intelectual dos zelotas religiosos com as problemáticas destes chatbots (o alucinar respostas, a sua pouca fiabilidade, a forma rigorosa como escrevem, o que convence demasiadas pessoas de que algo que é, grosso modo, estatística processada, se comporta de forma inteligente), e, realmente, demasiado pode correr mal com estas vozes divinas geradas por inteligência artificial.

AI Doomerism Is a Decoy: Confesso que também fico um pouco siderado com as declarações dos CEOs ou cientistas das empresas que desenvolvem tecnologias de IA Generativa, com aquele tom apocalíptico de que o que estão a desenvolver representa uma ameaça existencial à humanidade. A pergunta óbvia é se realmente é assim, porque não páram o desenvolvimento... e nas respostas a isso percebemos até que ponto este corrente hype pela IA tem pés de barro, é mais uma corrida ao ouro rápido. Não siginifica que a tecnologia esteja a desenvolver-se a largos passos, que as suas aplicações não levantem graves problemas sociais e éticos. Mas nem se aproximam do quadro tipo TerminatorGPT do qual se fala. Então, porquê este alarmismo? Duas razões: hubris, e desvio de atenções. A hubris de CEOs que ao afirmarem temer o que desenvolvem estão, na verdade, a aplicar uma elaborada técnica de marketing para convencer os investidores a manter os rios de dinheiro que os sustentam. E, enquanto invocamos os medos do Exterminador Implacável e do suicídio civilizacional via paperclip AI, não discutimos os problemas perenes, reais, mas muito menos sexy que a IA nos traz, desde os já demasiado bem conhecidos enviesamentos étnicos e sociais, aos novos problemas da IA Generativa e direitos de autor, entre outros. E, com isso, distorce-se o trabalho dos reguladores, invocando medos fantasmáticos para que as sociedades não reparem nos perigos reais.

Could the Ukraine war become a proving ground for AI?: Se durar mais uns anos, como tudo aponta que vai acontecer, sim, o conflito estará para o século XXI como a guerra civil espanhola para o XX, o terreno onde se experimentaram novas armas e táticas de combate. E hoje, a IA tem usos militares bem definidos, e não só na ideia óbvia de arma de ciberguerra.

A brief history of VR and AR: Um olhar para os primórdios da realidade virtual, recordando os projetos clássicos como o Sensorama de Heilig ou o Damocles de Sutherland. Mas, também, as primeiras tentativas de popularização desta tecnologia, com os primeiros kits VR para jogos dos anos 90 desenvolvidos pela SEGA. A história da realidade virtual tem tido um tema comum, é uma tecnologia fascinantes que tem tido ciclos constantes de tentativa de massificação, que falham sempre. E, no entanto, mantém o desenvolvimento e um conjunto de nichos onde, realmente, esta tecnologia cumpre a sua promessa. A meta falhou, e agora estamos curiosos para ver o que a Apple vai conseguir.

Open the pod bay doors: Se leram recentemente que graças à IA, se descobriu um novo antibiótico, a história é mais ou menos essa, e não é bem essa. O trabalho existe, usando algoritmos para explorar a imensidão de combinações moleculares possíveis, e de facto gerou uma nova descoberta, mas em saúde, inventar é apenas o primeiro passo.

"¡Al fin un miembro de pago!": la reveladora reacción de WinRAR cuando un usuario pasó por caja tras los 40 días de prueba gratuita: É um clássico, ninguém pagar para usar o WinRAR. Mas confesso, também sinto um certo peso de culpa sempre que descompacto um ficheiro e me surge a notificação.

They plugged GPT-4 into Minecraft—and unearthed new potential for AI: Usar LLMs para jogar Minecraft, como forma de perceber do que é que estes modelos são capazes como assistentes virtuais, muito para lá da simples pergunta-resposta do ChatGPT.

Is AI Creativity Possible?: É muito mais estimulante falar da criatividade dos algoritmos, mas isto é o que temos hoje. Se ruminar sobre o corpus do que já existe pode ser interessante, não é fundamentalmente criativo,  não expande fronteiras estéticas, não nos dá novas formas de ver: "The key characteristic of AI’s creative processes is that the current computational creativity is systematic, not impulsive, as its human counterpart can often be. It is programmed to process information in a certain way to achieve particular results predictably, albeit in often unexpected ways. In fact, this is perhaps the most significant difference between artists and AI: while artists are self- and product-driven, AI is very much consumer-centric and market-driven – we only get the art we ask for, which is not perhaps, what we need."

China está construyendo su primer avión comercial propio. El único problema es que toda la tecnología es occidental: Desmontando a ideia que o C919 é totalmente chinês. Mas, na verdade, quer a Airbus quer a Boeing incorporam nos seus aviões tecnologias e componentes vindas de todo o mundo, pelo mesmo prisma não poderíamos chamar europeus ou americanos aos seus aviões. É o resultado da industrialização globalizada, que se entrelaça em empresas.

"Lo que antes me llevaba días ahora son dos minutos": hablamos con los diseñadores encantados con la IA: Nestas coisas do debate sobre impactos da IA, o discurso habitual é de medo ou deslumbramento. Mas, como diz e muito bem William Gibson, the street finds a way, e o que se denota é que aqueles que se deveriam sentir ameaçados pela IA Generativa, estão a incorporar estas ferramentas para agilizar as suas práticas e trabalhos.

A Dumb Reality of ChatGPT Could Spell Big Trouble for OpenAI: E a realiade é, que fica caro usar estas ferramentas, dado o seu elevado consumo de recursos computacionais e energia.

Read This Before 3D Scanning In A Museum: Dicas que fazem todo o sentido, desde prestar atenção ao espaço que nos rodeia até verificar se as regras do museu nos permitem fazer fotografias e  digitalizações.

The partisans beyond the filter bubble: Normalmente culpamos as bolhas de informação pelo extremar dos discursos públicos. Mas, e se houver outro factor, como o comportamento tóxico de uma minoria extremada que, por ser atípico e constante, nos bombardeiam com conteúdo extremista. O pormenor mais divertido do artigo? Os estudos que demonstram esse factor humano só conseguem analisar o comportamento de utilizadores de computadores de mesa, porque em típico modo OK Boomer, nem sequer usam telemóveis.

Edtech giant Byju’s launches transformer models in AI push: IA generativa aplicada à educação, partindo dos LLMs para criar aplicações generativas ligadas á matemática e apoio ao trabalho do professor.

Portugal é o 4º país da UE com dados móveis mais caros: Nós sabemos, país de salários de pobre para pagar preços de rico. As operadoras funcionam como um cartel de facto, com ofertas muito similares e uma falta de concorrência real.

One More Screen for Your Face: Será que a Apple vai provocar à Realidade Virtual o mesmo que fez nos telemóveis? Os seus óculos VR surpreenderam, mas ainda há muito por saber, e especialmente falta a chegada ao mercado. Quanto ao preço, bem, é Apple, esperavam o quê? Quanto àquela ideia creepy de ecrãs que mostram os olhos do utilizador, a simular óculos, bem, recordam-se de quando surgiram os AirPods e o quanto foram ridicularizados? Agora, auscultadores com fios são uma raridade.

WordPress es uno de los pilares de la web y acaba de estrenar un asistente de redacción impulsado por IA: A Wordpress a incorporar dentro do seu CMS aquilo que de certeza muitos já fazem, um assistente que automatiza a produção de textos.

Makers in Defense of Ukraine: A Year Of Fighting Back With Innovation: Não me é muito confortável ler sobre a forma como um movimento essencialmente pacifista e colaborativo, que se constrói nas relações e partilha de saber, está a ser usado em tempos de guerra. Mas compreendo o imperativo de sobrevivência, e da necessidade de lutar.

Books You Should Read: Prototype Nation: Um mergulho na fábrica do mundo, que olha para a forma como a China afina os seus processos de manufatura de alta tecnologia.

Modernidade

[no title]: Atenção ao telefone vermelho.

Before and after Babel: writing as resistance in ancient Near Eastern empires: Uma proposta intrigante, que apresenta a hipótese do surgimento dos sistemas de escrita alfabéticos como forma de resistência ao imperialismo, representado pelo uso do cuneiforme.

Is TikTok Trying to Cancel Salvador Dalí? Why Art Historians on the Platform Are Denouncing the ‘Problematic’ Surrealist Icon: Mais uma daquelas histórias que  nos mostra que o discurso público está demasiado contaminado pelo radicalismo (quer conservador, quer progressista). Perdeu-se a noção de gradação, de equilíbrio entre o bom e o mau na vida e obra de um artista. Ou melhor, não se perdeu, realmente. Apenas, os algoritmos amplificam os resmungos dos radicais, porque isso atrai atenção, e atenção é o recurso finito precioso explorado pela economia digital.

El mar se ha llenado de gigantescas plataformas petrolíferas abandonadas. Desmontarlas es demasiado caro: Hã aqui um certo cruzamento de ballardianismo e waterworld, nesta conjuração de megaestruturas de cimento e aço abandonadas nos oceanos.

Tina Rivers Ryan on “Coded: Art Enters the Computer Age”: As relações entre tecnologia digital e expressão artística, através de trabalhos onde a tecnologia é mais do que suporte, é também uma linguagem artística.

Top 10 Yugoslavian aircraft: A Jugoslávia, essa experiência política e social criada no pós-I Guerra para resolver as eternas desavenças balcânicas, que se desmoronou de forma sangrenta no final do século XX, teve uma indústria aeronáutica. Nesta lista, alguns projetos surpreendentes vindos daquela terra maldita.

Quando o Estado legitima os vigilantes animalistas do IRA: Confesso que, como amante de animais e babado dono da melhor cadela do mundo, percebo a sedução do activismo estilo IRA. Explora muito bem a nossa predisposição para a bonomia com os animais, bem como a revolta perante os maus tratos. Mas as conhecidas ligações do grupo à extrema direita, que são óbvias, basta olhar para a sua estética de uniformes, símbolos e atitude de intransigência violenta, tornam este grupo preocupante.

Who “Owns” The Classical Past (And Why It Matters): Olhar para a apropriação ideológica da antiguidade clássica, hoje algo conotada com um certo conservadorismo (com imensa pena, penso eu, que também adoro a época greco-romana mas não me revejo em conservadorismos), mas que há dois séculos, alimentou o progressismo democrático que se queria libertar das monarquias. E, paradoxalmente, inspirou o Novo Mundo, que nos seus idealismos libertários se modelou numa visão mitificada da antiga Roma.

Russian neo-Nazi MMA fighter takes on Putin: Um dos aspetos mais desconfortáveis da guerra na Ucrânia é a visibilidade de grupos de extrema direita ucranianos, como o famoso batalhão Azov que foi liquidado em Mariupol (notem que se é desconfortável, não justifica a criminosa agressão russa). Esta história é ainda mais estranha, ligada às recentes notícias sobre rebeldes russos que se aliaram à Ucrânia e fazem incursões de combate em território russo. São liderados por um supremacistas branco russo, que sonha em derrubar o regime de Putin e combate a diversidade étnica da cultura russa. Primeiro, com grupos de wrestling (estas coisas não se inventam, lutadores russos fachos a combater em torneios só para brancos) e empresas de moda fascista, vendida por modelos hipermasculinizados rodeados de louras boazonas (novamente, uma realidade muito negra em modo gonzo bizarro). Uma figura secundária, que chega ao palco mundial graças às bizarras incursões em território russo.

Distorção da realidade: Um texto que nos incomoda, porque de facto... se a nossa sensibilidade para o que nos é próximo está cada vez mais afinada, continuamos a ignorar os panoramas gerais. E, de facto, agir apenas em defesa das nossas sensibilidades isola-nos do real.

The search for Earth's hidden mountains: Os mistérios das serranias que se ocultam sob a superfície terrestre.

Pre-Human Species Carved Symbols More Than 200,000 Years Ago: Não é surpreendente que os nossos antecessores tenham desenvolvido conceitos simbólicos, mas não deixa de ser fascinante este vislumbre dos seus, para nós, desconhecidos mundos interiores, ideias e imaginários de milénios há muito esquecidos.

Na Era do Zettabyte pt. 2: Como ler o jornal: É interessante ler o neo-ludismo informado de JCF. Por ser erudito, e por ser daquelas raras leituras que assumem visões verdadeiramente críticas sobre os impactos sociológicos das tecnologias que nos deslumbram.

Scientists Discover Ancient 'Lost World' That Rewrites History of Life on Earth: Vestígios de um longínquo mundo desaparecido.