quinta-feira, 20 de abril de 2023

Ir prò maneta


Vasco Valente (2007). Ir prò maneta : a revolta contra os franceses. Gaeiras: Alêtheia Editora.

Uma história crítica de um tempo muito conturbado. A partir da origem de uma expressão que significa que algo está a correr muito mal, é analisada a história da resistência portuguesa durante a primeira invasão francesa. Uma resistência feita de revoltas populares, vinda do povo, que provocou sérias dores de cabeça às forças invasoras, mas também aos poderes estabelecidos portugueses,  uma vez que as rebeliões depressa alastravam de revolta anti-francesa a vingança contra os proprietários, nobreza e igreja, sempre exímias em explorar as populações. Parte do livro mostra como naquele momento dramático de um Portugal quase a entrar na modernidade, as elites mantiveram-se à parte, ou foram coniventes (por medos legítimos) com os invasores, e foram aqueles que menos tinham a perder que se manifestaram e lutaram, quase sem meios militares, de forma assimétrica.

E quanto á expressão? Parte da luta assimétrica que revoltosos mal armados depressa perceberam que era a única que tinha sucesso no confronto com soldados bem armados - ações de guerrilha em toda a linha, evitando grandes combates, mas erodindo as forças francesas com os mais variados tipos de ações, desde as emboscadas à recusa dos comerciantes em vender comida aos soldados (há que apreciar a eficácia de medidas como as tomadas por agricultores, que quando encontravam soldados franceses com sede, por caridade lhes mostravam os poços de água mais contaminada que conheciam). Totalmente desconhecedores daquilo que hoje chamamos uma guerra de guerrilha, os oficiais franceses reagiram da forma clássica como as forças militares sempre costumaram reagir as estes movimentos: com repressão, violência, massacres de civis e inocentes. Destacou-se nisso o general francês Loison, particularmente selvagem na repressão, e que por ter perdido um braço deu origem à expressão.

Livro sintético, conta-nos um lado conhecido, mas geralmente pouco detalhado, das invasões francesas, sublinhando o papel do povo na resistência ao invasor. E, também, mostrando que as táticas e formas de combate estão na origem do conceito de guerrilha.