domingo, 19 de fevereiro de 2023

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Esta semana, destaca-se lançamentos de BD para 2023, os pontos de origem da ficção científica, e o regresso do Cinepop. Olha-se para o GPT dos gatos, a necessidade de visões críticas que contrariem deslumbres com tecnologia, e o lado pop da inteligência artificial generativa. Reflete-se sobre a arquitetura portuguesa nos cemitérios, legados de objetificação e o deprimente ennui dos burocratas talibãs. 

Ficção Científica e Cultura Pop 

The Houses Of Iszm: Nostalgias.

Society Needs Scary Computer Games: Se desligarmos o argumento utilitário do texto - jogar computador faz bem porque limpa a mente e nos tornamos mais produtivos (ai, a contaminação neoliberal), há uma ideia muito interessante. A temática escapista como forma de enfrentar medos sociais complexos.

A(lguma da) da BD que vamos poder ler em 2023: Prevê-se mais um excelente ano de lançamentos, com o regresso em força da BD francófona ao mercado português, e os comics a ultrapassar o nível básico dos super-heróis. E esta, é leitura obrigatória: As Muitas Mortes de Leila Starr, de Ram V. e Filipe Andrade.

Nova Vaga, Novas Capas: quando a ficção Científica ousou não se parecer com ficção científica: Um olhar erudito para a forma como as capas de livros de ficção científica foram um campo de experimentação estética. Estranhamente, a Bang! não coloca o nome dos autores dos artigos de republica, se bem me recordo, este foi escrito por Pedro Piedade Marques.

A remastered version of Myst is coming to iOS: O regresso de um jogo lendário, famoso pela sua estética.

Doctor Who Blinded Us with Science and Hit Us with Technology: Se há série que não é de todo tecnófoba, é o clássico Doctor Who. Toda a sua premissa assenta nas engenhosas soluções que o Doctor arranja para salvação, sua ou do mundo, armado com a mais temível das ferramentas: uma chave de parafusos sónica.

PELÍCULAS QUE HOY NADIE PODRÍA O QUERRÍA HACER… (Y ALGUNOS NI SIQUIERA VER): Um olhar para comédias negras clássicas, que brincam com estereótipos de género, mas o fazem de formas que as sensibilidades de hoje considerariam ofensivas.

4909) A arte feita pelas máquinas (3.2.2023): Certíssima, a intuição de Bráulio Tavares sobre o poder artístico da IA Generativa. O remisturar e remastigar do que já existe pode ser esteticamente apelativo, mas é vazio de conteúdo.

How (And Why) Film Creatives Bow At The Altar Of Groundhog Day: Porque é, de facto, um daqueles filmes marcantes, que não se esgota quando os revemos. Porque Bill Murray leva a comédia negra muito a sério. E, talvez, porque todos já passamos momentos marmota na vida.

The Earliest Science Fiction: Até compreendo a necessidade de legitimação erudita da ficção cientifica, apropriando-se de textos que a antecedem (e muito). Mas se a FC é uma literatura de ideias com base científica (in latu sensu), incluir os textos fantásticos do iluminismo à antiguidade clássica parece-me excessivo, porque são essencialmente obras de fantasia, entre o mítico e o satírico. Pessoalmente, alinho na interpretação que coloca Frankenstein como o ponto de origem da FC, por ser o primeiro romance que, no seu cerne, coloca ideias ligadas à ciência. É visto como uma história de terror (muito graças ao cinema), mas não tem elementos sobrenaturais. A criatura é gerada pela ciência, criada por um cientista. É o primeiro livro em que o foco passa do sobrenatural para o racional (embora, claro, um racional de sanidade duvidosa e cheio de hubris). O texto de Luciano é um delírio de sátira onírica, mas dificilmente se lê com tendo qualquer base em especulação científica.

Distracted? As Long As There Have Been Books, We’ve Worried About It: Ah, essa coisa demoníaca e prejudicial à mente que é ler vários livros. Sorrimos, mas estas atitudes revelam algo de estrutural na forma como nos relacionamos com os media que reclamam a nossa atenção.

«Videodrome» e «O Labirinto» na nova temporada do Cinepop: Marcar na agenda, a nova e prometedora temporada desta iniciativa.

Tecnologia

The Conditioned Captain: Invertendo paradigmas.

CatGPT: Exato. Bem mais rigoroso que o chatGPT.

Laying the Foundation for Extended Reality: Os passos e desenvolvimentos tecnológicos necessários para que as aplicações de XR evoluam.

ChatGPT e os modelos de competência linguística: Um olhar para o que nos faz perceber as respostas dos modelos GPT como em simultâneo interessantes e estranhas.

Anatel lança Qual Empresa Me Ligou para identificar chamadas abusivas: Daquelas iniciativas que, por cá, já se sabe que não seriam possíveis porque os consórcios de operadores e empresas de telemarketing facilmente a bloqueariam, com inúmeros argumentos que demonstram a bonomia desta indústria, que vive do explorar mão de obra barata para chatear pessoas a qualquer hora do dia para impingir produtos.

ChatGPT Is About to Dump More Work on Everyone: Bogost não é nada positivo, e acerta bem - se o uso das ferramentas de IA generativa se torna mais prevalente, todos os que lidam com profissões cognitivas vão ter o trabalho extra de identificar se os dados com que lidam (textos, imagens, etc.) foram gerados por algoritmos. Isto, a acumular com tudo o resto. No fundo, o que Bogost mostra é a forma como usamos ferramentas digitais para transferir para os utilizadores as responsabilidades das empresas, ou dos serviços.

Las alas ridículamente largas de la NASA buscan algo más: salvar la aviación comercial tal y como la conocemos: O investimento em projetos que permitam tornar a aviação ambientalmente sustentável ao nível das emissões.

Oferta do Microsoft 365 bloqueia Windows 10 se não se pagar: Chama-se a isto um dark pattern, na realidade não bloqueia, mas para quem não está habituado a isto e não sabe como dar a volta, é extremamente limitativo. A dica de quem, cortesia do escola digital, inicia instalações Windows, é apenas esta: recusar a ligação à internet que surge logo nos primeiros passos. Se o fizermos, o dark pattern entra em ação e somos quase obrigados a criar contas microsoft e, neste caso, a introduzir a informação financeira. Se não o fizermos, o sistema (depois de alguns avisos de que estamos a perder o brilhantismo de uma conta microsoft, eu sei e não quero, obrigado!), segue para uma instalação normal. 

Un «resumidor universal» experimental que analiza, completa y resume en una breve descripción cualquier web o documento: Arquivar em ferramentas super úteis.

16 alternativas a Lensa para crear tus avatares a partir de tus fotos y con inteligencia artificial: As apps de Inteligência Artificial generativa estão na moda, e aqui estão 16 sugestões para experimentar esta tecnologia sem necessidade de grandes equipamentos e conhecimentos técnicos.

“Computers enable fantasies” – On the continued relevance of Weizenbaum’s warnings: “The computer has long been a solution looking for problems—the ultimate technological fix which insulates us from having to look at problems.” – Joseph Weizenbaum (1983). Um dos aspectos preocupantes da discussão sobre tecnologias a sua polarização. Cai logo na acusação de ser um tecnofóbico do restelo aquele que se atrever a questionar o brilhantismo de as criptomoedas são o futuro da finança/o chat gpt vai mudar a educação/qualquer coisa gerada por IA generativa é arte/o futuro do trabalho é enfiar um HMD e interagir com os nossos colegas através de avatares sem pernas enquanto preenchemos tabelas de excel no espaço virtual (esta é particularmente dantesca, imho)/ inserir aqui o corrente deslumbramento com um produto que até nem funciona assim tão bem mas quem nos impinge investe em marketing.  Visões críticas, que questionem as premissas do deslumbre pela inovação, são consideradas ameaçadoras e obsoletas, a economia digital da atenção elegeu o deslumbre acrítico como narcótico de eleição. Enquanto nos deslumbramos, os problemas sociais, económicos e éticos agudizam-se através da implementação das tecnologias que elogiamos. 

Meet Bard, Google's Answer to ChatGPT: As guerras da IA começam a aquecer. Pessoalmente, estou curioso com o que poderão ser as capacidades do serviço de IA da Google.

And the Winner Is … AI Art?: Como não ligo particularmente a notícias sobre as luminárias do pop comercial mainstream, esta passou-me ao lado. Mas, os cenários da cerimónia dos Grammys deste ano foram criados usando inteligência artificial generativa por Refik Anadol.

Pluralistic: The Collective Intelligence Institute (07 Feb 2023): Mais uma machadada na ideia que aqueles que se atrevem a criticar o deslumbramento com as novidades tecnológicas são retrógrados/luditas/velhos do restelo. Não são. Criticar tecnologias não significa rejeitá-las, mas refletir nas suas lógicas e perceber como minorar ou evitar os maus impactos. Geralmente, quem se deslumbra com tecnologias de forma acrítica, das duas uma, ou é culturalmente limitado, ou segue na íntegra o credo do move fast and break things, essa crença de inovação que é na realidade make a quick buck, move on and pass on the other solving the problems you created.

Mastodon: A New Hope for Social Networking: Se ainda não perceberam como funciona o Fediverso... este é um verdadeiro artigo "for dummies", explica praticamente tudo o que há a saber.

Modernidade

James Heugh, “Winged Mars Rocket”: Traços de Von Braun.

São Tomé: o massacre de Batepá (1953-2023): Histórias negras do passado colonial português. Uma ação tão injusta que foi a própria Pide a denunciar o governador das ilhas de S. Tomé ao governo salazarista.

A Casa Portuguesa nos Cemitérios: Um olhar para a estética Raul Lino, um dos maiores proponentes de uma estética arquitetónica de elementos tradicionais portugueses, nos jazigos dos cemitérios de Lisboa.

Scientists Find New Evidence of Hidden Ocean World in Our Solar System: A fascinante hipótese de existência de oceanos em Mimas.

What Is It About Pamela Anderson?: Uma das sex symbols da minha geração (o quê, acham que víamos Baywatch por causa da sua complexidade narrativa), a mostrar na sua biografia as consequências da sexualização extrema, da objetificação do corpo, do ser vista como mero objeto de desejo, do ser útil apenas como veículo de gratificação masculina.

The True Origins of Lorem Ipsum: Confesso, andei anos a pensar que o lorem ipsum era aleatório. Deprimente, perceber que é um texto de Cícero (embora truncado). Já o resto, é intrigante: a origem está nos decalques letraset, usados para encher espaço de texto em layouts de página.

The End of the Intellectual Focal Point: Sobre o declínio do colunismo de opinião, e a real importância do twitter enquanto rede social - se são os jornalistas e opinadores que a frequentam, ao contrário da esmagadora maioria dos mortais, a rede vai sempre ter nos media um impacto superior ao seu impacto real.

Why We’re Fascinated By Unbuilt Buildings: Não escapamos ao sonho do possível, mas nunca realizado. A ideia de possibilidade é tantas vezes mais sedutora do que o real.

The Chinese spy balloon shootdown and a brief history of anti-balloon warfare: Confesso que quando li que o balão chinês foi abatido por um F-22, pensei que a decisão tivesse sido simbólica, o enviar o avião de combate americano mais avançado como forma de demonstração de superioridade. Na verdade, teve a ver com a elevada altitude do voo. Quanto ao abate de balões, já tem um longo historial no combate aéreo, e  curioso é saber o quão são difíceis de abater.

O ruído das armas e a prova dos stocks: Resumindo: espera-nos uma longa carnificina nas planícies ucranianas.

The Most Mysterious Part of the Moon Isn’t Where You Think: Um olhar para as missões que procuram demonstrar a presença de água nos pólos lunares.

Taliban Bureaucrats Hate Working Online All Day, ‘Miss the Days of Jihad’: Coitados, esta coisa de realmente ter de gerir um país é uma chatice, a vida era bem mais divertida quando se passava o dia a andar aos tiros. Ironia, claro, que pena é coisas que estes bárbaros retrógrados não merecem.

Na Gronelândia, a independência a pequenos passos: Um olhar para o território autónomo de soberania dinamarquesa, um resquício dos tempos dos vikings. Mas, também, um local apetecível em termos geoestratégicos e de recursos naturais.

We are ‘greening’ ourselves to extinction: "We also have people like billionaire Bill Gates who say they are “very optimistic” about the future. Of course, they are! Since 2020, the top 1 percent has collected nearly two-thirds of all new wealth, as the world has faced a deadly pandemic and massive climate-change-related disasters.": a recordar que o capitalismo procura maximizar lucros e não encontrar soluções para os problemas da humanidade. Se assim fosse, não teríamos o constante agudizar de pobreza, desigualdades, fossos sociais e alterações climáticas. Este último problema é uma ameaça clara ao futuro da humanidade e à vida no planeta (o único que temos, por muito que os bilionários sonhem com refúgios em Marte), mas é tratado como mais uma oportunidade de negócio.