Esta semana, destacam-se as infidelidades de Ulisses, a necessidade de ler literatura dos séculos passados, e a identificação da primeira autora da história. Olha-se para os algoritmos de geração automática de modelos 3D, os dilemas éticos do JPEG, e o rastreamento cerebral no local de trabalho. Reflete-se sobre a resistência alemã ao nazismo, dependências da Europa, e a Lisboa de outras eras.
Ficção Científica e Cultura Pop
The Sunken World: Passados fantásticos.
Roma eterna: E se o império romano não tivesse caído? Imaginem uma aliança asteco-romana a ir às estrelas. Um dos melhores trabalhos de Robert Silverberg.
The Best Contemporary Mystery Books, recommended by Mark Edwards: O artigo cruzou-me o radar, apesar de não ser especialmente fã de ficção criminal.
How Many Times Did Odysseus Cheat on His Wife?: Se Penélope é a epítome da fidelidade, já Ulisses experimentou muita coisa na sua viagem. A Odisseia não foi meramente geográfica.
A Fire Upon the Deep Is Mind-Blowing Space Opera: Um livro fabuloso, de um escritor que começa a estar esquecido. A trilogia de Vernor Vinge é ambiciosa, brilhante, e uma meditação sobre a sociedade da informação em modo space opera.
The Legacy of Pixar's Wall-E, Now a Member of the Criterion Collection: Não tendo sido um sucesso comercial, tornou-se um dos mais influentes filmes da Pixar, elogiado pela crítica, e agora incluído na mais prestigiosa biblioteca fílmica.
Why We Should Read Old Books: Um elogio dos clássicos. Não dos grandes clássicos dos plantões literários e cânones, mas das antigas obras de literatura pop e de género dos séculos passados.
Imersão, literatura e videojogos: Um olhar para a Oeste Nada de Novo, o livro e o filme recentemente estreado. Este foi um dos meus livros formativos, recordo a vívida impressão do horror da guerra que me deixou ao lê-lo quando adolescente. Já o filme, estreou diretamente na Netflix, o que significa que me é inacessível e dificilmente o irei ver (não sou especialmente purista, tipo, "cinema é na sala de cinema", embora prefira vastamente o escurinho do cinema ao brilho do ecrã televisivo ou de computador, mas não tenho muito tempo livre, estão demasiados livros na pilha por ler, o que significa que os priorizo face ao audiovisual, não faria sentido pagar por um serviço de streaming que não teria tempo de usar).
Les Baxter’s “Goliath and the Barbarians”: Vá, confessem, não tinham saudades do rei da lounge music? Les Baxter era um mestre neste som de groove melódica açucarada, ritmada e inconsequente.
The Struggle to Unearth the World’s First Author: O consenso em torno da figura da sacerdotisa Enheduana como o primeiro vestígio do traço individual de autoria literária demorou muito a ser atingido. Em parte pela distância temporal, de um corpus literário que se reconstrói a partir do acaso das descobertas arqueológicas. Mas, em essência, por uma visão clássica da arqueologia e história muito centrada no papel dos grandes homens, que não compreendia que numa civilização desaparecia há milénios as mulheres estivessem em pé de igualdade com os homens (suprema ironia, as terras outrora ocupadas por essa civilização são hoje aquelas onde os costumes e religiões mais oprimem a mulher). Apreciei particularmente o pormenor do arqueólogo que, perante uma estátua que representava uma mulher suméria com tabuinha de escrita nas mãos, concluiu que não era capaz de compreender o que estava a ver. Hoje, a discussão está encerrada, e a sacerdotisa Enheduana é considerada a primeira escritora da história. Não porque realmente o seja, teve predecessores, masculinos e femininos, mas por ser a primeira cujo nome nos foi transmitido através dos tempos, com autoria atribuída às orações que escreveu.
Renato Carreira: O Fim Chega Numa Manhã de Nevoeiro: Porque às vezes, pulp é mesmo só pulp, leitura para entreter. Mas gostamos sempre que os livros que lemos sejam capazes de ir mais longe, e trilhar caminhos mais prometedores.
Imagining Faster-Than-Light Travel: É o conceito que permite à ficção científica ultrapassar o irritante limite lumínico. Estamos longe de inventar tecnologias que nos permitam ultrapassar a velocidade da luz, mas no imaginário ficcional, não faltam exemplos de como transformar as vastas distâncias siderais em meros atalhos.
Exploring the underappreciated science fiction classics for San Diego Comic Con: A MIT Press (talvez a mais interessante editora contemporânea, não só pelo seu lado técnico como pelos ensaios que publica) tem uma nova coleção. A Radium Age reedita obras esquecidas da ficção científica clássica, que foram pioneiras no seu tempo.
Lançamento internacional: Quel Signore in Salotto: O conto vencedor do prémio Ataegina, publicado numa antologia italiana que reúne novos autores europeus.
The strange romantic allure of the Universal monsters: O porquê dos filmes clássicos de monstros da Universal se revelarem tão perenes, quando outros filmes, até mesmo os inspirados nos originais, depressa ficaram esquecidos. Em parte, pela forma como os reais monstros dos filmes não são as criaturas em si, mas aqueles que as perseguem. Metáforas de solidão, sexualidade e queerness, talvez não intencionais, mas que provocam nos espetadores sensações muito fortes de empatia e identificação com as criaturas que, supostamente, seriam de horror.
Dylan Dog: una rivoluzione/occasione mancata?: Um olhar para o historial de Dylan Dog, com a sua revitalização às mãos de Recchioni, tão criticada pelos fãs mais conservadores que está a ser revertida, condenando o personagem a um marasmo que repete as estéticas de há vinte anos.
Move Over ‘Top Gun: Maverick’, ‘Devotion’ Is Authentic Aviation Cinematography: Pela crítica tão positiva feita por quem gosta de aviação, suspeito que será um filme a ir ver. Apesar dos militarismos, mas quem tem paixão pelas máquinas voadoras, percebe o fascínio.
Take A Look Back At Some Of The Greatest Aliens In Animation History: Como o imaginário dos animadores clássicos criou visões de seres alienígenas.
Tecnologia
English Steel And Spanish Passion: Aventuras clássicas.
India’s first private rocket, built by startup Skyroot, makes successful launch: O clube das iniciativas privadas de acesso ao espaço alargou-se, com este projeto indiano.
Analyzing How Visitors See Cultural Heritage Sites Through Their Social Media Posts: Um interessante exemplo de digital heritage, analisando os padrões que emergem da partilha nas redes sociais de fotos de locais históricos tirados por turistas.
Meet Unstable Diffusion, the group trying to monetize AI porn generators: Regra 42, certo? Com acesso a modelos abertos, não surpreende que alguns se organizem para os usar para fins menos éticos.
La fábrica de iPhone más grande de China al ralentí: necesita 100.000 trabajadores para normalizar su producción: Os impactos das políticas anti-covid fortemente restritivas da China, a fazerem-se sentir na produção industrial. E, em efeito dominó, nos mercados globais e capacidade das empresas tecnológicas de fazer chegar os seus produtos aos mercados.
Hundreds of employees say no to being part of Elon Musk’s ‘extremely hardcore’ Twitter: Quem diria, que ao receber um email com um petulante "ou trabalhas até cair ou o melhor é ires embora da empresa", a resposta massiva dos trabalhadores era despedir-se. Quem imaginaria tal atitude? Este desastroso filme de Musk ao leme do Twitter é surpreendente, pelo nível de incompetência de um bilionário a gerir uma empresa. Desde despedir a torto e a direito, a implementar mal sistemas de verificação, a eliminar serviços que considera inúteis (como autenticação 2FA...) e outras patacoadas, Musk está a conseguir aniquilar o Twitter. Tendo em conta que os engenheiros mais experientes, com décadas a gerir e fazer crescer o Twitter, já abandonaram em massa a empresa, esta rede social tem os dias contados. Os utilizadores estão a aderir em massa ao Mastodon, mas nem isso corre bem, porque o tipo de ambiente de discussão vitriólica que apreciavam no Twitter simplesmente não funciona no fediverso, onde não há algoritmos de promoção, não há retweets com comentários acérbicos, e onde as instâncias isolam e depressa banem discursos de ódio. Sobre Musk, a pergunta é, se ele é assim tão desastroso a gerir uma empresa, como diabos enriqueceu?
How AI Is Being Used In Creative Work: Uma análise das potencialidades dos geradores de imagem nas indústrias criativas.
Latest MoMA Exhibit Is an AI-Generated Swirling Hallucination of Other Museum Art: Um brilhante exemplo de como usar geradores de imagem para criar arte. Esta instalação de Refik Anadol gera imagens continuamente, usando um algoritmo treinado no acervo do museu onde está instalada. Uma interminável reinterpretação por máquinas da estética do museu.
Twitter Employees on Visas Can’t Just Quit: Com os despedimentos e êxodos, quem é que fica no Twitter a aturar a incompetência de Musk? Os imigrantes, que se forem despedidos, são deportados.
Augmented Reality Workbench Helps You to Debug Your Boards: Usar realidade aumentada para auxílio técnico não é um conceito novo, mas é interessante vê-lo a ser apropriado pelos makers.
How Is Artificial Intelligence Changing Art History?: Sabemos que os geradores de imagens são essencialmente derivativos e dependentes da estética dos seus modelos de treino. Então, e porque não questionar a história de arte, tirando partido desse ponto fraco da inteligência artificial? E, com isso, encontrar novas formas de olhar para a história da arte?
‘Full-on robot writing’: the artificial intelligence challenge facing universities: Retiro deste artigo, que apesar do título não é alarmista, o conceito de auxílio cognitivo. Ou seja, os algoritmos de geração de texto irão tornar-se tecnologias tão banalizadas como, por exemplo, as calculadoras. Que, quando começaram a aparecer, levaram com acusações similares, de serem detrimentais para a aprendizagem e qualidade do ensino, que se apontam às novas ferramentas baseadas em Inteligência Artificial.
El libro físico jamás morirá por un simple motivo: a diferencia del e-book, dura toda la vida: Na verdade, até duram mais do que uma vida, a minha biblioteca tem alguns livros que já duraram várias vidas humanas. Mas mais do que duração, o artigo olha para o problema da preservação digital, da obsolescência de formatos que leva à perda de conhecimento, dos meios eletrónicos que falham. Pessoalmente, sempre achei a questão livro versus e-livro uma não questão, há lugar para ambas as opções. Mas nisto da curadoria e preservação a longo prazo, infelizmente, é verdade, os suportes tradicionais garantem uma maior longevidade do que os digitais.
How a 'Playboy' Centerfold Became Part of the Creation of the JPEG: Um sinal da forma como a nossa sensibilidade evoluiu está nesta história (bem conhecida de todos os que olham com olhos de ver para a história da computação). Se nos anos 70 ninguém se importava com as conotações de se usar uma pinup da playboy como imagem de calibração para estabelecer a norma JPEG, isso hoje é considerado problemático, e uma mácula na história da tecnologia. Curiosamente, é uma imagem menos explícita do que a da mulher do investigador Thomas Knoll em Bora Bora, que foi usada nas primeiras demonstrações do Photoshop.
How the First Transistor Worked: Um olhar detalhado para a história do desenvolvimento dos transístores.
How the Graphical User Interface Was Invented: Talvez um dos elementos que mais contribuiu para a democratização do uso dos sistemas informáticos, tornando a computação acessível a todos.
Creating Equitable 3D Generative AI: Os desafios de criar geradores de modelos 3D utilizando inteligência artificial.
Robot Gift Guide 2022: dos brinquedos robóticos à robótica mais séria, algumas das ofertas no mercado.
3D for everyone? Nvidia’s Magic3D can generate 3D models from text: O poder da geração automatizada por inteligência artificial começa a chegar ao 3D, com esta espantosa demonstração da Nvidia.
Quecto, Ronna: Meet the Newest Metric Prefixes: Quando as unidades de medida que temos se mostram insuficientes perante a expansão do metrificável, criam-se novas unidades.
It’s time to talk about killer robots: Robots assassinos soa muito mal. Sistemas autónomos de defesa tem uma sonoridade mais agradável. E, apesar de todas as objeções éticas, estão em desenvolvimento ativo.
Are You Ready for Workplace Brain Scanning?: De chofre, o título arrepia, pelo nível de invasividade que promete. Ainda por cima, pela visão mecanicista de vigiar mesmo os impulsos mais íntimos dos trabalhadores, em nome da otimização da eficácia. Apesar das questões éticas que isto levanta, ao ler o artigo há um dado interessante: a tecnologia desenvolvida por uma empresa israelita explora (no bom sentido) a nossa capacidade inata de reação, onde os sistemas autonómicos cerebrais desempenham um papel determinante para nos colocar a reagir antes da nossa perceção consciente, para tornar mais rápida a análise de imagens de raio-X na segurança dos aeroportos. Este uso parece interessante, e não violador da privacidade dos indivíduos, mas sistemas que monitorizam o cérebro para controle de emoções dos trabalhadores são um enorme problema ético.
Modernidade
Robert McCall: Uma celebração da aviação e espaço.
Macchi C.202/C.205V Italian WW2 Fighters in Combat: Os Macchi são belíssimas máquinas, e apesar de algumas ineficiências são justamente considerados das melhores aeronaves de combate da II Guerra.
Flying With The VFC-111 ‘Sun Downers’, U.S. Navy Adversary Squadron: Um olhar para os pilotos que têm como missão simular inimigos, para treinar os seus colegas.
Microdosing cathedrals and the synthetic acoustic environment of the ancient world: Intrigante, olhar para o design acústico das catedrais (e outros espaços imersivos) como indutores de estados alterados de consciência.
How Close Are We to Nuclear War?: No final deste artigo sobre a corrente e perigosa situação russa, um pormenor histórico que desconhecia. O bombardeamento a Hiroshima e Nagasaki não foi, ao contrário do que se pensa, diretamente ordenado pelo presidente americano. Pelo contrário, Truman ordenou a paragem no uso das armas atómicas após os bombardeamentos.
O regresso da estação do Alvito, comboio em Loures e Setúbal a 30 minutos de Lisboa: o que prevê o Plano Ferroviário: Resta saber se... o plano passa do papel. Como morador da zona oeste, já estou vacinado para propostas e grandes planos revitalizadores da ferrovia.
Artists’ Doomed, Inspiring Resistance to Hitler: O que aparenta ser um artigo sobre uma exposição, acaba por ser uma história das pessoas que formaram a resistência anti-nazi. Histórias tocantes, de quem teve a coragem para manter a sua humanidade face à loucura institucional, e pagou em muitos casos isso com a vida.
Finland's PM Says Europe Is Too Dependent On China For Technologies: O War News Updates é uma fonte interessante, apesar de alguns óbvios enviesamentos de direita populista (também precisamos de estar atentos ao que nos contraria, para quebrar a bolha informacional). E costuma ter análises bem pertinentes. É de que facto nós, europeus, adoramos lamentar que estamos demasiado dependentes de tecnologia da China (mais na manufatura do que no desenvolvimento, essencialmente exportamos as ideias e métodos e os chineses, fabricam... e copiam e desenvolvem os seus sistemas). Que dependemos demasiado da energia russa (como se nota neste contexto de guerra. Que dependemos dos americanos para a defesa. Discutir as dependências é uma espécie de desporto europeu. Já tomar medidas concretas que permitam a longo prazo autonomizar a Europa, é que nem por isso. Precisamos de tomar consciência que vivemos num mundo global, que os países dos quais dependemos depressa encontram novos mercados (a baixa eficácia das sanções à Rússia mostra isso). Ou seja, que temos de nos autonomizar, e investir na independência, pensando a UE como uma entidade política cuja verdadeira influência não se baseie em difusos ideais de soft power.
O modelo económico e político por detrás do Catar 2022: Com os primeiros chutos do mundial veio o escândalo, o facto de uma celebração do desporto estar a ser organizada por um pais cujas leis e valores andam longe do liberalismo ocidental, cuja construção de estádios num clima imperdoavelmente quente se saldou em milhares de mortos. Não que o mundo do futebol se apoquente muito com isso, desportos institucionalmente corruptos e oligarquias explorativas estão bem é a partilhar o mesmo leito.
Scientists Are Investigating Signs of Ancient Human Civilization Underwater: Intrigante, descobrir que nas alturas alpinas houve uma civilização neolítica que deixou vestígios megalíticos, hoje submersos nos lagos das montanhas.
Turkey’s First Indigenous Unmanned Fighter Aircraft Carries Out Autonomous Taxi Tests: A guerra na Ucrânia tem sido uma excelente publicidade para a Baykar, que fabrica os drones que os ucranianos usam com tanto sucesso. Mostrando um passo à frente, desenvolveu um protótipo de drone caça de combate.
How Leonardo’s “Monstrous” Drawings Inspired Modern Caricature: Uma mostra de desenhos grotescos de DaVinci serve de partida para o analisar das origens da caricatura.
Memórias de Lisboa: Um olhar comparativo para as Lisboas, a de hoje, e as do passado.
