quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Il fantasma di Eymerich


Valerio Evangelisti (2022). Il fantasma di Eymerich. Milão: Mondadori.

Depois de algumas viagens a Itália, finalmente um Urania veio comigo na mala para a biblioteca. Não que sejam particularmente difíceis de encontrar, adquirem-se em qualquer banca, mas estava interessado num escrito por algum autor italiano. A colecção Urania é longa, e mensalmente coloca nas bancas italianas um novo livro de ficção científica, com especial foco na tradução dos autores ingleses e americanos. Curiosamente, mesmo sabendo que Itália tem alguma tradição no domínio da Ficção Científica, nunca consegui encontrar livros de italianos nas livrarias que fui visitando (o que é talvez mais desconhecimento meu do que falta de obras).

Esta edição é comemorativa de um autor recentemente falecido, reeditado na colecção. O livro é intrigante, faz parte de uma série que nos leva à idade média e às aventuras de um inquisidor que zela pela pureza da fé. Nesta aventura, o inquisidor está em Roma, numa época conturbada. Com um papa falecido, as pressões dos romanos sobre o conclave dos cardeais leva à eleição de um papa italiano. Mas, para lá das disputas de poder entre as facções religiosas francesas e italianas, há um segredo que o inquisidor deslindará: este novo papa é um secreto fiel de uma religião mais milenar do que a católica, e pertence a um núcleo de altos dignitários da Igreja que praticam o mitraísmo, e estão a introduzir as antigas doutrinas persas nos preceitos cristãos (sendo o mais óbvio a celebração do natal no dia 25 de Dezembro).

O que é que isto tem a ver com ficção científica, perguntam-se, claramente este é um romance histórico. Mas parte da narrativa passa-se num futuro distante, onde uma consciência viva cósmica que une todos os seres sentientes se aproxima da sua singularidade, o ponto ómega do misticismo cristão. E, num distópico futuro próximo, numa Catalunha independente e proscrita entre as nações por se atrever a praticar um socialismo benevolente, um cientista americano refugia-se, para poder trabalhar na sua invenção: uma forma de viajar para as estrelas, explorando os universos paralelos abertos pela mente como forma de superar os limites da física clássica.

A ligação entre estas três narrativas é feita pelo leitor. Percebemos que a omniconsciência do futuro profundo é a consequência da forma de viajar pelo espaço desenvolvida na futura Catalunha. E também percebemos que a conspiração esotérica detetada pelo inquisidor é fundamental para estes futuros, os misticismos esotéricos darão a base teórica para a conquista das estrelas, e a transcendência das consciências no longo futuro.

A leitura é divertida, algo arcaica nestas premissas de futurismo cósmico-místico. O grande foco está nas aventuras do inquisidor, na descrição das intrigas e lutas de poder na Roma medieval.