quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Blood and Ruins


Richard Overy (2021). Blood and Ruins: The Great Imperial War, 1931-1945. Londres: Penguin.

Em busca de novas perspetivas sobre a II Guerra Mundial, este livro inicia com a tese do conflito como uma última guerra colonial, focado no esforço de três nações - Alemanha, Itália e Japão. Nações perdedoras nas corridas colonialistas do final do século XIX, teriam usado a II Guerra como forma de conquistar espaços coloniais que acreditavam ser-lhes tão devidos quanto os das nações com impérios coloniais já estabelecidos. E, no fim do processo, não só perderam a guerra como levaram ao derrocar da ideia de colonialismo. 

É uma tese curiosa, que amplifica os conceitos de lebensraum a leste alemão, de conquistas de prestigio num renovado império romano italiano, ou a postura agressiva japonesa de, sabendo que era considerado um povo inferior pelos ocidentais, não se deixar colonizar através da construção do seu próprio império.  Mas o livro depressa avança por campos mais conhecidos, tornando-se uma verdadeira história da II Guerra. Uma que nos apresenta as principais tendências e vertentes, refletindo a enorme complexidade deste conflito, cuja história não parece esgotar-se.

Overy olha para os teatros de operação militar, para as grandes movimentações e batalhas, para os momentos de desespero. Mas também olha para o papel das resistências, e olha especialmente para o devastador impacto da guerra nos civis. Na II guerra a distinção entre combatentes e civis era meramente nominal, e isto por parte de todos os combatentes, quer aliados quer forças do eixo. Foi também uma guerra de atrocidades. Se o Holocausto é a mais estudada destas, Overy mostra-nos as carnificinas, represálias, e violência atroz infligida sobre combatentes e populações, com atrocidades de gelar o sangue. E não pensem que estes relatos se centram nos suspeitos do costume. Nesta guerra, apesar da narrativa oficial dos vencedores, todos cometeram atrocidades, quer eventos isolados levados a cabo por tropas fora de controle, quer de forma sistemática.

O livro encerra em arco, mostrando o colapso sangrento dos impérios coloniais europeus no pós-guerra. Em parte, levado a cabo por povos sublevados que tinham combatido como contingentes imperiais com a promessa de liberdades, bem como pela perda da visão do homem branco como superior, algo especialmente patente na ásia, onde uma nação vista como inferior varreu as potências europeias e subjugou os colonos europeus. Mas, também, pela divergência trazida por uma guerra combatida em nome da liberdade, que teria necessariamente que se alastrar a outros povos que não os europeus, e pelo surgir de uma nova geopolítica influenciada pela postura anticolonial dos Estados Unidos e, posteriormente, pela guerra fria. 

Blood and Ruins não é uma leitura fácil. Livro denso, condensa ideias, factos e evoluções históricas muito complexas. Apresenta um dos retratos mais abrangentes e profundos desta guerra que forjou o mundo em que hoje vivemos.