domingo, 6 de novembro de 2022

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Esta semana, destaca-se o olhar crítico para o negócio da edição de livros, o novo romance de Grant Morrison, e o triunfo do conservadorismo em Dylan Dog. Fala-se de usar inteligência artificial para despachar trabalhos escolares, geração de vídeos por inteligência artificial, e uma singular proposta de missão espacial ao Hubble. Olha-se para a histeria, culturas de cancelamento, e livros proto-surrealistas de outsider art vitoriana.

Ficção Científica e Cultura Pop

Nick Farmer and Nick Mijnheer, 1984: Feitiçarias computacionais?

Books As Weapons: Livros são vectores de transporte de ideias. O serem uma ameaça àqueles que gostam de dominar pelo medo, ou garantir poder pela ignorância, e que por isso os tentam banir, tem sido uma constante ao longo da história.

Janela indiscreta para o mundo da publicação de livros: Talvez das melhores leituras para se ficar a conhecer o mundo dos livros pelo seu lado empresarial, agora também cativo da febre neoliberal de maximização de custos à custa da diversidade e qualidade, e da hiperconcentração das antigas editoras independentes no seio de grandes grupos editoriais.

Grant Morrison's new novel Luda is overwhelmingly fabulous: Estou intrigado e curioso com o novo romance de Grant Morrison, que, tal como tudo em que este argumentista de BD coloca o dedo, promete ser polémica, incómoda, e dolorosamente surreal.

In A Win For Authors, People Can No Longer Read And Return E-Books To Amazon: Confesso, é-me muito difícil perceber que tipo de fã explorava este buraco nas regras da Amazon. É que não percebo mesmo como é que comprar o livro, ler à pressa e depois pedir a devolução do dinheiro apoia os autores. Mesmo sabendo que as políticas editoriais de hoje são fortemente corporativizadas, um esquema destes lesa precisamente aqueles que os fãs mais dizem adorar e admirar, os autores.

Mas afinal o que é o Cuquedo?: É um dos livros que mais entusiasma as minhas colegas do primeiro ciclo. 

Want More Women in Tech? Read Better Sci-Fi: Faz sentido, e não só pelo argumento batido que muitos cientistas se inspiraram na FC que liam enquanto crianças. A literatura de ficção científica faz sonhar, e esse sonhos não são exclusivamente tecnológicos.

Dylan Dog sta per cambiare, di nuovo: Leio isto, e fico com a sensação que os conservadores ruidosos venceram. É ainda mais estranho ver este regresso do personagem à visão tradicional dos bons velhos tempos de Sclavi, porque no seu melhor, Sclavi era experimental, transgressivo e surreal. Esta viragem sublinha o papel tóxico de alguns fãs, que só querem ler mais do mesmo, e se insurgem contra quaisquer modificações que ameacem a sacrossanta imagem que têm dos seus personagens. E também sublinha outro aspeto, que eu como leitor de Dylan Dog percebi: o melhor deste personagem estará sempre no trabalho de Sclavi, que o criou e evoluiu (e de formas nada tradicionais, estas reações dos fãs levam-me a pensar que se Golconda, ou tantas outras aventuras oníricas e surpreendente do personagem, tivessem sido escritas hoje, o seu autor teria sido sacrificado no altar da opinião pública). Nas mãos de outros argumentistas, torna-se um personagem muito mais banal, apesar dos bons momentos conseguidos pelos argumentos de puro giallo de Paola Barbato, ou o lado mais obsessivo de Recchioni. 

This is a browsing edition of Bruce Sterling's anthology Mirrorshades: Ok, isto é muito cyberpunk. Rudy Rucker pirateou uma versão pirateada da já há muito fora de circuito antologia seminal do movimento cyberpunk. 

Variantes - Uma homenagem à BD Portuguesa: Um dos primeiros livros saído de um projecto interessante da Seita, que visa olhar para a BD portuguesa sob pontos de vista históricos e monográficos.

Tecnologia

Photo: Hi-tech.

Los problemas morales y sociales de utilizar la IA para hacer los deberes: Só me surpreende que... isto não se tenha sabido (e feito) mais cedo. O uso de ferramentas automáticas para criar textos é um dos impactos da IA na educação, porque pensem lá bem: são estudantes adolescentes ou jovens adultos, provavelmente entediados com o que têm de estudar, a sentir as pulsões dos divertimentos e vida académica. Se souberem que há umas ferramentas capazes de escrever textos por vós, e com isso despachar trabalhos das disciplinas e cadeiras, o que é que irão fazer? Pois, bem me parecia. Eu provavelmente teria feito o mesmo, nos meus tempos de estudante. Isto levanta uma série de problemas, desde a fraude académica (o mais óbvio), até ao profundo problema educacional que é ter pessoas que se formaram entregando trabalhos automatizados, ou seja, tendo sido avaliados e certificados como tendo realizado aprendizagens que, de facto, não realizaram.

A Tale of Two Times: Edo Japan Encounters the European Clock: Uma história de choques culturais, com o saber mecânico europeu a fascinar os japoneses, apesar dos nossos relógios não servirem para nada num país que contava o tempo de forma diferente. 

NVIDIA's new AI model quickly generates objects and characters for virtual worlds: Não era inesperado. Era uma questão de tempo até as capacidades de geração assistida por inteligência artificial chegassem ao 3D. A minha questão? Quando é que posso experimentar isto?

Nazi Weapons of the Future: Vá, bem sei que quer o nazismo quer a II Guerra não são assuntos para ânimo leve. Mas as tecnologias bélicas sonhadas, planeadas e desenvolvidas pelos cientistas e engenheiros alemães parecem-nos, ainda hoje, futuristas.

AI Is Probably Using Your Images and It's Not Easy to Opt Out: A Vice decidiu seguir o caminho clickbait na cobertura analítica dos geradores de imagens. Neste artigo, descobriu o óbvio, que uma vez colocada online, uma imagem pode ser utilizada para múltiplos fins, sem que quem a publicou perceba isso, e que combater isso é quase impossível. 

Wait, are you guys bringing your phones into the shower?: A tendência para se ser hiperprodutivo tem destas coisas.

If you still miss Google Reader, Substack has a new web-based RSS client: Sou enorme fã do RSS - sem essa tecnologia, estes artigos não existiriam. Nunca foi muito do agrado dos media (porque ler em rss é uma não-ida ao site, e consequentemente um não clique e uma oportunidade perdida para mostrar anúncios). Esta ideia é interessante, um leitor rss concebido para uma comunidade dedicada. Não irá substituir o versátil Feedly, que uso desde o fim do Google Reader, mas o principal é perceber que, para quem lê na Internet, o rss é a tecnologia incontornável. 

Creating Stable Diffusion Videos with SD Deforum and Visions of Chaos Animation: Dicas iniciais sobre como criar vídeos gerados por inteligência artificial. Para já, muito incertos e surreais, mas pessoalmente é isto o que gosto mais nesta tecnologia. Arquivar em ferramentas emergentes

Meta’s Toxic Algorithm 'Substantially Contributed' to Ethnic Cleansing in Myanmar: Amnesty International: Não há grande surpresa aqui. Se as razões deste genocídio são muitas (há que ficar estarrecido com a ideia de budistas ultra-nacionalistas), o Facebook tornou-se um dos principais vetores de desinformação e discurso de ódio. Nada fez para combater isso. Ou seja, não só contribuiu para o clima de violência, como ainda lucrou com isso.

Google Maps permitirá navegar por el interior de los edificios. La nueva vista inmersiva 3D pinta espectacular: Um intrigante desenvolvimento da tecnologia da Google. Acabou o estarmos perdidos dentro de um espaço. 

OpenAI’s image generator DALL-E is available for anyone to use immediately: Depois de toda a fanfarra a afirmar que iam restringir o seu uso por causa dos eventuais perigos de imagens falsas, agora abrem a todos. A causa disto é obvia, entre a popularidade do Midjourney e o lado open source da Stable Diffusion. E este, qualquer um pode correr  no seu computador (desde que tenha capacidade para isso),sem filtros nem restrições. Suspeito que esta medida da OpenAI tenha mais a ver com o manter o Dall-E relevante, nestes dias de evolução muito rápida dos algoritmos de geração de imagem. 

Space Tourist Says He's Thinking About Flying SpaceX Craft Up to Fix Hubble: Uma proposta intrigante, e que provavelmente não passará disso, dificilmente a NASA dará acesso a algo tão icónico como o Hubble a amadores. Teriam mais hipóteses se se propusessem a fazer arqueologia espacial. 

Regalar iPhones no es digitalización: el Kit Digital del gobierno cae en los problemas de campañas pasadas: Espanha também tem um plano de digitalização da economia, que passa pelo apoio direto às empresas através de intermediários com experiência tecnológica. As verbas ficam para pagamento dos pacotes de serviços oferecidos pelos intermediários. O que é que poderia correr mal?

Meta’s Make-A-Video AI achieves a new, nightmarish state of the art: Algoritmos texto para vídeo já não são novidade, o Stable Diffusion já faz disso, mas vindo da Meta é um outro tipo de chancela. Para já os resultados são desconexos e titubeantes, mas esta tecnologia já mostrou que avança de formas muito rápidas. 

Phenaki: E, por falar em algoritmos texto para vídeo, outra experiência, vinda do mundo académico.

Modernidade

Robert McCall: clássico da hard SF.

We’re Going to Need a Bigger Ballista: Regulus vs. the River Monster: Histórias do longo passado romano, quando as forças da natureza podiam atemorizar uma legião.

Photo Book Retells the History of Hysteria: Visões da loucura, mas talvez mais da neurodiversidade, e da dificuldade de viver com problemas mentais em épocas onde o estudo da mente era ainda um enorme desconhecido.

El gas ruso está comprometiendo la producción de Volkswagen en media Europa. Buenas noticias para España: Que fazer quando o custo da energia dispara numa Alemanha dependente do gás russo? as grandes empresas planeiam deslocalizar a produção para o sul da Europa, com Espanha (e Portugal) a beneficiar.

Michael Heizer’s Empty Empire: Uma instalação artística difícil de classificar, próxima da Land Art, e que coloca uma cidade esboçada e inabitável em pleno deserto.

Of course the Sabre was the most important Cold War aircraft, here’s why: E, também, uma das mais bonitas aeronaves desta era. 

Theater of Shame: Um dos piores elementos estimulados pela imediatez do digital são as culturas do apontar o dedo, dos cancelamentos, do barafustar reclamando superioridade moral e envergonhando aqueles que caem no desagrado dos arautos de novas moralidades. 

The Blood Book by John Bingley Garland: Este é um daqueles achados artísticos inesperados. Um livro de colagens de inspiração cristã, mas quase surreal, saído da mente de um inglês cuja vida foi passada no comércio de peixe. Pura outsider art.