terça-feira, 10 de maio de 2022

Fumos da Índia


Henrique Mendonça (1922). Fumos da Índia. Lisboa: Portugal-Brasil Sociedade Editora.

Nem todos os livros envelhecem bem, aliás, isso acontece à maior parte. E uns envelhecem pior do que outros, não só pelos seus arcaísmos, mas por nos recordarem modos de pensar que, felizmente, estamos a ultrapassa. Este curioso achado num alfarrabista, escrito por um autor que teve a sua fama e lugar nas academias, mas hoje parece completamente esquecido, cai muito bem nestas categorias.

A capa já nos dá uma dicas do seu interior, com o indisfarçado fascínio pelo passado orientalista. É para o passado que Fumos da Índia se vira, com um conjunto de pequenas histórias sobre a história das conquistas na Índia, com uns desvios para a presença portuguesa no Japão e na Etiópia. São histórias do Portuga quinhentista e das suas aventuras militares de sangrenta conquista. O tom é de elogio patriótico e historicista, destacando os personagens como homens de valor que iam espalhar o reino e a cristandade, sempre dispostos a vencer as superiores forças dos pérfidos indígenas. 

É um tipo de glorificação do lado violento da história, da conquista, do assalto aos povos e territórios, que hoje nos parece arcaico, e algo ofensivo. Embora, neste último ponto, seja conveniente recordar que este autor é de outros tempos, e apenas espelha ideários da sua época. É importante conhecermos estas formas de pensar, para melhor perceber o como podemos evoluir enquanto sociedade. Lido tendo em conta estas perspetivas, o livro tem a sua piada, sabemos que estamos a ler uma glorificação nostálgica de estereótipos do passado. Não podemos esperar mais de um livro publicado há cem anos, por um autor caído em esquecimento.

O estilo narrativo é rebuscado, arcaico. É daqueles livros para quem o tempo só poderia ser inclemente, pela forma como aborda os seus temas, e pela prosa. A  história como sucessão de supostos heroísmos, feitos por homens cujo exercício da violência se justificava como uma necessidade imperiosa de alargamento da nação e subjugação de povos inferiores, é-nos hoje um estilo datado, arcaísta.