quinta-feira, 20 de maio de 2021

Comics: Franken-Castle; Fredric, William et l'Amazone; Monsters

 

Rick Remender, Daniel Way, Tony Moore, James Harren, John Romita Jr., Klaus Janson  (2010). Punisher: Franken-Castle. Nova Iorque: DC Comics.

Nem sei muito bem como descrever isto. Punisher é caçado e estraçalhado por Daken, um dos filhos de Wolverine, mas os seus restos mortais são resgatados por Morbius. Este, nos esgotos de Nova Iorque, criou um refúgio para as criaturas deformadas e monstruosas, que estão a ser exterminadas por um bando de samurais ao serviço de uma estranha entidade. Os samurais querem livrar o mundo da praga dos kaijus e outras criaturas que destroem rotineiramente Tóquio, e decidem entrar numa guerra santa contra tudo o que é criatura do obscuro. A única defesa dos monstros está na legião dos monstros, um grupo que inclui os personagens de horror da Marvel - Man Thing, Morbius, Werewolf by Night e The Mummy. E o que é que Punisher tem a ver com isto? Morbius entra numa de Dr. Frankenstein, reconstrói o corpo do anti-herói que, ressuscitado pela ciência insana, vai aniquilar aqueles que ameaçam os monstros com extremo prejuízo. E, em seguida, vingar-se de quem o deixou às fatias.  Uma aventura deliciosamente over the top, sem quaisquer preocupações de grimdark ou criminal noir, apenas hiperviolência cómica. 

Jean-Marc Lainé, Thierry Olivier  (2020). Fredric, William et l'Amazone. Comix Buro

Dois destinos, interligados pelos comics. O de Fredric Wertham, o psicólogo que se chocou tanto com a violência gráfica na banda desenhada americana dos anos 50 que iniciou uma cruzada para proteger as crianças da má influência dos comics. O que veio a gerar o pânico moral que levou ao estabelecimento da autocensura do Comics Code, um esvaziamento de conteúdos, que se simplificaram para evitar represálias (com exceções, nos comics para adultos e na contra-cultura), e de certa forma deram ao género mais simplista, o dos super-heróis, espaço para crescer, por ser dos poucos que não iria desagradar aos moralistas. E o destino de William Marston, o cientista bígamo que, nos anos 40, se atreveu a criar um novo super-herói - uma personagem que valorizava a libertação feminina: Wonder Woman, que se tornou um dos grandes ícones do género. 


Barry Windsor-Smith (2021). Monsters. Fantagraphics.

Como em Frankenstein, o verdadeiro monstro não é a criatura que nos aterroriza. Traços de Frankenstein e Hulk colidem neste livro monstruoso de Windsor-Smith. O seu grafismo, afinado pela experiência, entre o realismo formal e o expressionismo, conta-nos uma história convoluta e perturbante. Tudo começa quando um jovem sem abrigo, com um passado traumático, se voluntaria para o exército americano, e é conduzido para um projeto secreto, para um qual um homem sem família nem registos é a cobaia perfeita. Um projeto que recupera experiências genéticas nazis, liderado por um cientista militar americano que tem um tenebroso passado como médico austríaco, e posto em prática por um oficial implacável. O jovem cadete é transformado numa criatura monstruosa e quase invulnerável, em experiências que tinham como objetivo aperfeiçoar as capacidades humanas e criar super-soldados. A histórica complica-se, graças à crise de consciência do oficial de recrutamento que empurrou o jovem para a experiência, um homem que tem um dom especial, transmitido na sua família. E, para complicar mais esta história, há um incrível elo de coincidências que une todas as personagens deste livro, nascido nos escombros da II guerra mundial e numa macabra descoberta feita por uma unidade militar, comandada pelo pai do rapaz sem abrigo. Um livro ambicioso, graficamente espantoso, com uma linha narrativa complexa que nos leva a perceber algo de tradicional nestas histórias: os verdadeiros monstros não são as criaturas disformes nascidas da hubris daqueles que brincam com a natureza, mas sim aqueles que, metodicamente e a sangue frio, se dedicam a criar o impossível.