terça-feira, 14 de abril de 2015
The Last Passenger
Manel Loureiro (2015). The Last Passenger. Amazon
Nos dias que antecedem o rebentar da II guerra, os tripulantes de um navio de transporte de carvão fazem uma descoberta arrepiante. Encontram à deriva um navio de cruzeiro nazi, completamente abandonado apesar de haver comida quente nas mesas. Por entre o vazio e uma sensação de horror iminente, os marinheiros encontram um bebé abandonado. Décadas depois, uma jornalista de luto pelo recente falecimento do marido investiga a curiosa história da obsessão de um milionário que fez a sua fortuna na corda bamba entre o lício e o ilícito.
Acossado pelas autoridades, ao milionário apenas interessa a aquisição de um navio abandonado num depósito de ferro-velho militar. Restaurando-o à navegabilidade, embarca com a jornalista, um grupo de cientistas e os seguranças pessoais no navio que fora encontrado misteriosamente à deriva à cinquenta anos atrás. O objectivo é de recriar a viagem e descobrir a causa dos eventos misteriosos. De um lado, um dos cientistas que integra a expedição quer investigar a sua hipótese da causa dos misteriosos desaparecimentos em alto mar serem causados por singularidades espácio-temporais. Do outro, temos um milionário que não olha a meios para perceber as suas raízes, uma vez que é ele o bebé descoberto no misterioso cruzeiro. Levados pelo olhar inquisitivo da jornalista, mergulhamos no mistério de um velho navio amaldiçoada, onde debaixo de um estranho nevoeiro as barreiras do tempo se dissolvem e as pessoas do presente se descobrem a reviver os dramas do passado.
Descobriremos que a causa da maldição foi uma atrocidade cometida por um oficial nazi demasiado zeloso, que abateu a tiro refugiados judeus escondidos no porão. Um deles lança sobre o navio uma maldição cabalística com o último fôlego, condenando os passageiros a um ciclo eterno onde uma força malévola os obrigará a reviver os últimos momentos. Só a coragem da jornalista, auxiliada pelo fantasma do marido, quebrará no futuro o ciclo, desencadeando o acontecimento que levará o bebé a ser descoberto no passado.
Surpreendente, este romance do galego Manel Loureiro que oscila entre o thriller de mistério, a ficção cientifica e o horror. A premissa mexe com o lado fascinante dos mistérios nazis, ficando no ar quase até ao final se se tratará de algo tecnológico ou sobrenatural. A justaposição de passados e futuros que colapsará nos capítulos finais, bem como a paraciência dos mistérios de alto mar tocam na FC, enquanto que o ambiente a bordo do navio e a força misteriosa que causa todo o mistério mergulham no terror profundo.
A destoar fica a intervenção deus ex machina de um personagem fantasmagórico que irá auxiliar a heroína nos momentos mais cruciais e a forma como Loureiro resolve o fim do horror cíclico, quebrando a sequência de eventos de uma forma que causa um óbvio paradoxo temporal. Tudo está dependente da descoberta do bebé no navio, e quebrar o ciclo apenas fará com que ele se mantenha.
Sendo um livro de narrativa linear, em que depressa nos aperecebemos que caminhos seguirá a história, resta-nos esperar que o autor desvele as causas dos mistérios, algo que num crescente suspense só se tornará aparente no final. Durante a leitura fiquei impressionado com o ritmo e dinamismo, e especialmente com o carácter visual. A aventura desenrola-se como num filme, e quase diria que este livro daria sem precisar de grandes adaptações um divertido filme. Um surpreendente e leve thriller que mostra a vitalidade do género fantástico no nosso país vizinho.